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“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." (Clarice Lispector)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Clara




Era ela Clara. Clara de pele. De olhar distante, beleza opaca, sorriso apagado e verdade duvidosa, era ela misteriosa. Sem qualquer clareza em sua essência, era Clara condenada a fingir vida advinda de sua alma abortada.

Funcionava tal qual um espelho, vivia por imagem invertida. Era o exato reflexo daquilo que não era. Esbanjando doçura e assombrando por tamanha delicadeza, era Clara pura mentira. Forçava- se diariamente a amar, a detestar, a preferir. Não conseguia. Sem qualquer sensibilidade, era ela desprovida de vida.

Tinha ela uma falta de fé inabalável. Pois só tem fé quem acredita. Só acredita quem sente. E sentir... Sentir não era coisa de Clara. Era ela fria, dura e inquebrável. De simplicidade comovente e transparência contestável, era Clara outra Clara, que não ela.

Passava tanto tempo fingindo, que quando podia apenas ser, dormia. Clara era exausta por não se bastar por si. Mas pior do que não sentir seria explicar o não- sentimento. Num mundo de gente que transborda uma felicidade inexistente e que se autocomisera pela tristeza que não sente, não haveria de ser Clara a única diferente.