Mesmo
adulta, ela às vezes sente-se carente, órfã até. Procura o colo da mãe, o
conforto da casa dos pais, o cheiro de lar. Corre atrás do que a fez menina, e
se esquece de que já é mulher.
Ela
não sabe se por insegurança ou por carência, mas tem sido muito difícil
caminhar por suas próprias pernas. Talvez elas ainda sejam um tanto curtas...
Ou talvez seja o caminho demasiado longo. O fato é que tem sido exaustivo,
conflituoso e doloroso seguir por novas trilhas.
Vez
em sempre, o coração aperta e ela corre de volta, como uma criança mimada.
Regride tudo o que havia progredido, mas não se arrepende, porque continuar por
ali é bem melhor. Recarrega-se e volta a andar. Os pais, aliás, têm essa mania:
cismam que os filhos devem ir. Mas para que isso? Tudo o que ela quer é ficar.
Ela
segue em passos de formiga e sem vontade. Sente mais medo do que jamais pensara
sentir. Medo da estrada, das bifurcações, das companhias, da solidão, do
destino final. Cada passo seu, é uma grande vitória, acredite. Significa que
por um segundo, foi forte o suficiente para continuar.
Mas
aí, vem a chuva. Não aquela chuva que aprecia- se quando vista da janela de
casa. A chuva do lado de fora, é sentida na pele. Os fortes pingos gelados,
unidos ao vento frio, desencorajam- na a seguir, então, ela para. Congela,
enquanto a chuva desaba sem trégua.
O
pânico cresce, e a mulher esquece que é mulher, pensa que é menina e volta
correndo para casa dos pais. Quer o colo da mãe, o urso da infância e a cama
com cheiro de lar. Volta para aquilo que se propôs deixar para trás. Depois ela
amadurece, amanhã, quem sabe. Mas agora não. Está escuro lá fora... Espere a chuva passar.