Quem sou eu

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“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." (Clarice Lispector)

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Este e Aquele

Aquele dizia que a amava, que sentia maior necessidade dela a cada alvorada. Ele se fazia presente todos os dias, tinha sede dela e nunca se satisfazia. Aos olhos dos amigos, esse era o romance ideal. Pois ela, carente que só, ansiava por alguém que valorizasse sua companhia.
        Telefonemas infindáveis, mensagens de celular, e-mails, aparições-surpresa ao longo dos dias... Ela tinha toda a atenção que almejara outrora, mas cansou. Cansou do jeito atencioso, carinhoso, cuidadoso e amoroso dele. Pois é, cansou. Vai entender.
        Ela sentia falta do seu próprio espaço, estava sufocando. Queria ter tempo de sentir saudades, discutir sobre o sumiço dele, surpreender-se com sua presença. Mas ele simplesmente não permitia. Por isso, achou melhor cada um seguir o seu rumo, buscando pela pessoa sonhada.
        E então, ela conheceu este. Ele parecia não se importar com ela, nem com mais ninguém. Mas tinha um charme, um jeito de olhar, de conversar, de conquistar que lhe era peculiar. Sumia por dias a fio, apesar disso, quando se encontravam, ele era dela, tão dela... Ela se encantou.
        Ele era todo o mundo dela, mas ela era só mais um ítem no mundo dele. Mesmo assim, ela, iludida, achava que podia mudar isso nele. Não entendia que as pessoas são como são, e que ela integrava a regra, não a exceção.
        Ela se apaixonou, e ele cansou. Foi embora sem despedir-se, e nunca mais a procurou. Mas ela ficou aguardando o momento de sua volta. E continua a esperar ali, no cais de porto em que ele a deixou.
       Ela teve quem lhe desse o mundo, e escolheu quem lhe deu as costas. Vai entender.




domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Última Poesia



Poesias são tristes.
Se não são,
Ao menos têm origem
Em momentos de tristeza profunda.
Poetas não são filósofos,
Tampouco românticos incuráveis e incompreendidos.
Poetas são pessoas infelizes,
Que usufruem dos momentos de auge de infelicidade
Para escrever palavras
Nas quais pessoas igualmente infelizes
Encontram suas almas há muito perdidas.
Poemas de felicidade e alegria
Não interessam, não se enquadram,
Não funcionam, não atraem.
Os bons e reconhecidos poetas
Estão sempre almejando o inatingível.
Estão sempre sonhando alto demais.
Estão sempre ocupados demais com os sonhos,
Para se preocuparem com a sua realidade obviamente mesquinha.
A realidade não serve,
Nunca é satisfatória.
O encanto de um poeta
Não está no que ele vive,
Nem no que realizou,
Mas nos seus sonhos e desejos
Que são certamente maiores do que ele mesmo.
Para ser um poeta,
Necessita- se de uma insatisfação incorrigível,
De uma amargura incalculável,
Precisa- se ter uma tristeza enraizada na alma.
Eu não quero ser poeta,
Nem gostar de poesia.
E, muito menos,
Carregar essa tristeza em mim.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Insanidade

Não é possível que não se dê por satisfeito. Agora, além de perturbar a minha cabeça durante todo o dia, também resolvestes ocupar a minha noite. Qual será tua intenção? Me deixar louca de vez? Pois se este intuito for, podes ficar tranquilo, meu amor. Há muito já não sou sã.
Atravessastes rapidamente a minha vida, como um tufão, um furacão. Da mesma forma avassaladora que chegou, passou. Sim, passou. Mas deixastes rastros, marcas profundas na minha cabeça e no meu coração. Levastes com você a minha paz e minha sanidade. Nunca mais serei a mesma, podes disso certo estar.
Como é difícil olhar para o lado e realizar que não me acompanhas. Tua ausência me soa como a mais profunda solidão, embora eu reconheça que em poucas vezes estou de fato sozinha. Não te ter comigo me torna frágil, fraca, inoperante. É como se a melhor parte de mim tivesse debandado. Restou somente quem eu sou sem a tua companhia. Desprezível, desnecessária, desgostosa.
Tu deverias ser preso. Trancado na cela de mais difícil acesso possível, por toda a eternidade. Porque o que fazes, é crime. Crime hediondo. Roubas o coração de mulheres que deixam de viver, e passam a vagar pelo mundo em busca de ti e de si próprias.




quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Coração Desalmado



Este meu coração só faz me envergonhar
Vive por aí, batendo de porta em porta, tentando adentrar
E, quando consegue,
Já fica todo serelepe.

Mas de tão animado,
Logo é abandonado.
E aí, chega a hora de chorar
Choro por mim e por ele,
Por dele vir tamanha dor.
Mas o que ele quer,
Se aceita migalhas de algum qualquer?
Ao receber um afago, já se põe a disparar
Ele apanha, se esfola, mas parece até gostar.
Nunca vi coração mais feliz
Em bater por alguém que não o quis.

Ah, mas agora estou cansada
Deste sofrer que não se acaba!
O que fazer?
Deixar todo o amor guardado morrer?
Ou distribuí- lo a quem quiser?
Grandes besteiras.
Esta decisão não me cabe.
Cabe à ele, que vive a me dar rasteiras.
Meu coração é desalmado,
Vive me fazendo sofrer.
E continua a querer
Alguém que o cuide tão bem
Quanto eu me proponho a fazer.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Procura- se

Procura- se com urgência um amigo. Mas não qualquer tipo, é claro. Preciso de um que seja especial. Que custe caro, por ser valioso, mas se doe sem nada cobrar. Alguém que seja sincero, divertido, companheiro e cúmplice. Que não tente esconder os próprios defeitos, nem se deixe abater por qualquer motivo.
Busco um amigo que ria das minhas graças, me atenda ao celular de madrugada, perca seu programa predileto para me ver, ceda a sua casa quando a minha não for suficiente, ouça pacientemente as minhas lamentações, me mande mensagens inesperadas de carinho, me proteja dos outros e de mim mesma, aceite as minhas tantas loucuras, me diga somente a verdade, me lembre que não sou o patinho feio, reclame quando eu sumir por muito tempo, compreenda os meus lapsos de afetividade, converse com o olhar, me empreste os melhores livros e me divirta com as maiores besteiras.
Procuro por uma pessoa de carne e osso, mas que saiba ser de ferro e açúcar. Um amigo que me conheça mais do que eu mesma, que tenha sempre o colo disponível, que me mande e- mails periódicos, que se chateie por eu falar demais sobre outras amizades e que conheça todas as minhas senhas.
Quero encontrar meu irmão de alma. Minha alma- amiga- gêmea. Alguém que saiba o quanto eu posso ser sarcástica e cruel, mas ainda assim, me admire. Que entenda que sou humana e imperfeita, mas ainda assim, espere sempre o melhor de mim.


 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Dia de Chuva

Tuas palavras vazias, tão cheias de significados implícitos,
Me inibem.
Tua conversa casual, repleta de intenções,
Me expõe.
Teu olhar imponente acentua com sutileza o que dizes.
E assim, boca e olhos me repelem.

Discretamente, recolho- me em mim
Torço para que não percebas a minha compreensão
Preferia continuar na ignorância
Somente desta maneira, mantería- me ilesa por algum tempo.
A consciência de se saber preterida
Destroi qualquer tipo de admiração e desejo.
Apesar disso, todo fim implica num novo começo.
Devo ater- me à esta ideia e seguir em frente,
Sempre em frente.

A vida segue e me arrasta como uma correnteza
O oceano dos dias proporciona calmaria ao sol
E também grandes tempestades, que parecem jamais cessar.
Mas é impressão de quem navega, apenas impressão.
Fruto das mentes pessimistas
Pois a cada surgimento do sol, tudo se renova.
O dia, o tempo, a vida.
Amanhã, sei que nada daquilo me soará tão ruim.
De hoje, só restará a brisa gélida e o cheiro de terra molhada.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Arrepio

Olhar que despe
Língua que invade
Sorriso que morde
Mãos que exploram
Palavras que envolvem
Gosto
Cheiro
Toque
Arrepio
Inevitavelmente, arrepio



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Música e Poesia

Com o lápis e o papel nas mãos,
Exponho minhas íntimas verdades.
A escrita flui tão naturalmente
Que não parece sequer ser processada pelo raciocínio.

Faço- me e desfaço- me em palavras.
Minha sinceridade se torna explícita
Sem proteção, sem disfarce, sem meio- termo.
Meus textos entregam- me aos tubarões, aos leões e às borboletas
Por que não?
Mostrar- se indiscriminadamente é sempre um risco.
Mas quando se ganha asas, vale a pena
A cada exposição fragmentada da minha alma,
Alço vôo a alturas inimagináveis
Transbordo- me, transformo- me, transporto- me

Não escrevo por prazer, mas sim por necessidade.
Necessidade de escancarar o que a maioria prefere esconder.
Preciso que saibam que não sou aquilo que se vê,
Sou o que as palavras dizem de mim.
Não posso ser definida, pois sou ilimitada,
Doce e intempestuosa
Sou a mais harmônica das melodias
E a mais pura das poesias.