Quem sou eu

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“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." (Clarice Lispector)

domingo, 27 de novembro de 2011

Doação de mim

Tenho me doado tanto, que me pergunto às vezes, o que me sobra de mim. Sinto a impressão de que me vou aos poucos, aos muitos, aos trancos. Sou um conjunto de sins, de concessões, permissões, aceitações. Mas meu eu clama por um pouco de nãos também.
Tenho precisado receber, só pra variar. Estou sentindo bater a necessidade de me guardar, me respeitar. Meus pés estão exaustos de seguir por trilhas que não são suas. A alegria que carrego, cansou de fazer graça noutros circos. E a rainha que vive em mim, não pode mais governar reinos alheios.
Faremos assim, então. Cada um que cuide de seu próprio castelo. Minha matéria está cansada, e nem minh’alma foi poupada. Doar-se por inteiro, cansa. Não amar-se o suficiente, também. Agora, eu preciso de mim. Vou ficar aqui, alimentando-me de amor. Recebendo sins, que outrora distribuí, sem ter consciência de que também precisaria ouvir.


Carta que não vai chegar

                    Escrevo essa carta, como a primeira de muitas que não serão endereçadas a você. Apenas ficarão guardadas, arquivadas na mais funda das gavetas.  Armazenadas, assim como o meu amor por você. Que, de tão escondido, mal posso encontrar. Mas de nada adianta, porque sinto- o vivo, pulsando, tentando sair, querendo explodir.

        Escrevo somente em prol do passado, apesar da consciência de que não retornará. Eu continuei em frente, mas você ficou por lá. O futuro que passou, nos fez também passar. E nos afastou, como não era de se esperar. Seguimos por caminhos distintos, distantes, alheios ao nosso desejo de permanecer na mesma reta. Escolhemos, sem querer, estradas paralelas. Há quem diga que elas se encontram no infinito. Eu realmente quero acreditar. Mas será que esse infinito demora a chegar?

Num antigo futuro, descobri que tenho capacidades admiráveis. Pensei até que te surpreenderia. E então, vem você dizendo que já sabia, pois me conhecia. Você me admirava antes mesmo de eu ter consciência do quão admirável sou. Vejo as suas fotos, ouço histórias a seu respeito, e percebo que o futuro que você viveu também te modificou. Te intensificou. Mas sei que, na essência, você não mudou.

O passado que vivemos juntos foi um grande presente. E não vou dizer aquela coisa batida de “a gente era feliz e não sabia”. Porque a gente sabia. A nossa felicidade era aproveitada a cada segundo, a cada abraço, a cada risada. Sinto uma pontinha de tristeza por não ter sido o seu futuro, mas ainda alimento a esperança de retornar ao seu presente.

O nosso elo se desfez, as afinidades evaporaram e até as brigas parecem ter sido sofridas noutra vida. Mas o meu amor, eu te disse... Continua aqui, em algum lugar. Oculto em mim, trancado em mim, escondendo-se de mim.

Somos a prova de que excesso de amor não mata, mas rompe laços. Seu amor afastou-me de você. Como pode? Amor que não une, não vale. Provamos que nossos laços não eram de aço... Desfizeram-se, desfizeram-nos, em meio à tempestade.

Olha só... Resolvi escrever uma carta a você, e só consigo falar sobre o que deixamos de ser. É saudade. E vai passar, eu sei que vai. Mas, por ora, permita-me. Estou profundamente incomodada com essa ausência. Sua falta me dói às vezes. Mais até do que posso expressar.



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Querer


Você entende tudo errado. Quando digo que te quero um pouco, é pura força de expressão. Falsa mansidão. Eu te quero sim. Mas quero e te quero muito. Muito de você, por muito tempo. A redução é só pra não te assustar, porque se você soubesse o tamanho do meu querer... Eu acabaria por te perder.
Te quero, e quero assim. Acaso. Sorriso. Olhar. Cumplicidade. Simplicidade. Pois quando tudo começa a dificultar, mais parece um sinal para se afastar. E estou nesse impasse. Somos tão fáceis, tão simples, tão... Nós. Por que insistem em nos complicar?
Não faço planos, apenas respeito este meu querer. Quanto mais contido, mais profundo, mais ardente, mais latente. Já não posso esconder. E para quê? Vejo o prazer que você sente em perceber. Sua resposta iminente pulsa de você e impulsa o meu querer.
Estamos num ciclo. Não há saída... Ou, ao menos, não a enxergamos. A vontade desmedida cega toda obviedade. Mas por hora, nos resguardemos. Você tem mais a perder do que deseja, e eu, mais a ganhar do que poderia suportar. Seremos sempre como estamos, onde paramos. Acaso. Sorriso. Olhar. A simplicidade foi embora, e não deve retornar.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Imortalidade


Essa vontade
Esse desejo
Essa sede
Essa ansiedade
Esse desespero

Essa coisa desmedida
Que me confunde, me invade, me inunda
Essa sacudida na alma, que me desestabiliza
Esse impulso de voar com destino final...

Meu destino é a tua nuca
Teus cabelos desalinhados
Teu peito largo, tuas mãos grandes
Meu destino são teus olhos que me mastigam
Tua boca que me anseia
Teus braços que me chamam

Quero arrancar-te as roupas e a pele
Saciar minha sede num só gole
Deixar que nada de ti reste
Quero ter-te dentro de mim
E imortalizar-te, assim



sábado, 5 de novembro de 2011

É só Merecimento

Então, a gente percebe que está bem. De uma hora para outra, de um jeito ou de outro, fica tudo bem. Não sabe quando ou como aconteceu, mas sente que melhorou. A gente volta a rir de besteiras e quase não se lembra das tristezas. Passou. Pois é, aquilo que acreditava- se não terminar nunca, parece que sequer existiu.
Eis que os planos e sonhos voltaram à tona. Eis que o coração voltou ao seu ritmo normal. Eis que a gente voltou a ser o que era. E agora, o cabelo ficou até mais brilhoso, a pele mais sedosa, o sorriso mais sincero, a vida mais bonita. Eis que a gente aprendeu a andar por si só, e descobriu não precisar de companhia.
Por muito tempo os olhos procuraram o mesmo semblante, os ouvidos a mesma voz, a pele o mesmo toque. De repente, passa. E, nesse momento, a gente percebe estar curado de novo... E torce pra vida se movimentar um pouco.
Claro que não foi fácil, nem simples assim. A dor cessara, mas havia sido bastante sofrida. Dizem por aí que isso só acontece para que a paz seja valorizada... Talvez até mais merecida. E isso é uma verdade. A gente mereceu essa paz, que se segue à turbulência. A paz que vem, pra colocar tudo nos eixos novamente, ou pela primeira vez.
Esse sol da manhã entrando pela janela do quarto, a brisa que corre, o som de vida lá fora, a vontade de ganhar o mundo... Tudo isso foi batalhado, tudo isso é merecido. A gente conquistou o direito de sentir e viver tudo isso.



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Caio Fernando de Abreu [2]

"A vida tem caminhos estranhos, tortuosos às vezes difíceis: um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. Sim, existir é incompreensível e excitante. As vezes que tentei morrer foi por não poder suportar a maravilha de estar vivo e de ter escolhido ser eu mesmo e fazer aquilo que eu gosto - mesmo que muitos não compreendam ou não aceitem."