Quem sou eu

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“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." (Clarice Lispector)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Liberdade (?)


                Liberdade sempre me pareceu uma palavra de conceito indefinível. Acho estranho como as pessoas vulgarizam o sentido dela, caracterizando como livres tantos diferentes tipos de prisões.
                Primeiro que conceituar liberdade por si só, já é uma ação fracassada. É o mesmo que mutilá-la, descaracterizá-la. Para ser livre, é preciso espaço, direção própria e caminho desconhecido. Não se pode ter amarras, limites ou preconceitos. Tudo isso me soa bastante contraditório, já que o ser é, em sua essência, dependente e atado a diversos estigmas.
                Dizer que se vive em liberdade é bonito  e até nos remete a uma ideia de democracia. Erroneamente. Nossa democracia tem tantos furos quanto essa liberdade que nos é licenciada. Somos controlados o tempo todo, principalmente de cima para baixo. Sim, a pseudoliberdade democrática brasileira funciona de ordem hierárquica. Contraditório, não?
                Voltando ao termo cru liberdade, penso em Clarice Lispector, que costumava se referir à mesma quase que isoladamente como um estado de espírito. Então, estar livre representaria uma condição social, enquanto ser livre, uma condição pessoal. Parece agora fazer algum sentido. Mas continua contrastando com o perfil de sociedade vigente. Seria possível sentir-se livre em meio à tantas regras e imposições? Honestamente, eu desacredito.
                Vejo a liberdade, como funcionamento mental, condição de existência humana. Acontece somente dentro da cabeça de cada um. Não somos capazes de executá-la de fato ou não a definimos corretamente. Ou vai ver, está tudo certo, e eu quero mais do que a liberdade pode ofertar. Talvez eu seja mais fiel à Clarice do que penso, quando ela diz: “Liberdade é pouco, o que eu desejo ainda não tem nome.” 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Falta sua.


Sinto sua falta como uma parte desprendida de mim. Perdida, mas não esquecida. Sinto sua ausência quase tanto quanto sua presença e costumo enlaçar-me em meus braços, na tentativa de resgatar algum qualquer resquício perdido seu.
Mas você não me deixou nada. Nem um olhar, um cheiro, gosto ou lembrança que seja viva. Não me deixou o beijo inesquecível, nem nossa música preferida. Não deixou nada a que eu agora pudesse me apegar para não morrer na sua falta.    
O que você deixou fui eu. Numa nova versão do que costuma ser. Mais romântica, reclusa e menos acessível. Você me deixou esse incessante blues no coração. Não faço outra coisa além de te esperar, e vez em sempre, bate a dúvida se devo tentar te procurar. Insistem em dizer-me que é preciso não esperar, para que você apareça. Mas eu não conseguiria. Te espero enquanto te escrevo, e sinto que a cada palavra essa nossa distância encurta. E te chamo. E te busco. E te amo, mesmo sem te conhecer. Mesmo sem saber como nos viver.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Dupla Face


              

                Às vezes é difícil perceber no que acreditar. Tem gente que tem mais fases do que a lua e se transforma mais do que borboleta. E aí, é inevitável se questionar: as pessoas mudam, ou apenas fingem?
                Tenho em mente que ninguém é uma coisa só, nem tem apenas uma versão. Todos somos contraditórios, mas no quesito opinião. Quando se trata do ser, não penso assim. Ou é ou não é. Pulsa ou não pulsa. Toca ou não toca. Me soa estranho quando alguém sofre ou me causa diversas variações.
                Desconfio de quem me faz mudar muitas vezes de visão. Hora companheira, fofa, doce, sentimental. Hora calculista, observadora, analítica, antipática. Se pararmos pra refletir, matamos a charada. Quem tem falsidade consegue se passar por ingênuo, mas quem tem pureza não se passa por esperto. Pronto. Face descoberta.



quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Aparar as Pontas


Esse desejo de mudar a vida, de crescer, fazer, acontecer e principalmente, ser, é também um desejo de morte. Tenho vivido um desejo forte de matar tudo o que atrapalha essa minha caminhada. Morrer um pouco pra voltar ainda mais viva, é necessário, eu acho.

Vontade de matar essa preguiça, essa preocupação com desimportâncias, esse querer inerte. Vontade de assassinar (com requintes de crueldade até) as roupas que não servem mais, os sapatos que machucam e as pessoas que não acrescentam... Antes que elas me matem! Vontade de atirar pela janela tudo que me atrasa, inclusive o relógio. Vontade de resgatar o tempo que não perdi, para abrilhantar o que ainda há por vir.

Minha vontade, na verdade, é apenas de viver. E viver bem. Se para isso, for preciso matar ou morrer um pouco, assim farei. Dizem que quando cortamos as pontas do cabelo, ele cresce mais rápido e mais bonito. Com gente também funciona assim. É necessário “aparar” o que não presta, para seguir. E seguir melhor. Seguir com força, brilho, e muito mais vida.





segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Meu Amor


   

      Tenho levado meus dias no automático... Não estou sabendo viver de outra maneira. Sinto falta intermitentemente do meu amor.  Tudo dele que há em mim, me dói de uma maneira absurda. Corrói o que tive de fé e oculta o que tenho de amor.
         O cheiro do meu amor não é doce, forte, nem suave. É só dele. É algo inexplicável. Me parece chocolate, terra molhada, maresia, bolo saindo do forno, café e chiclete de hortelã. Aquilo que eu chamaria de combinação perfeita. A minha melhor combinação.
        O toque do meu amor também é só dele. Em algumas vezes, delicado e cuidadoso. Parece temer que eu quebre. Sinto-me sua grande preciosidade. Ele me olha como só existíssemos nós no seu mundo, e me beija como se cada um fosse o último. Por outras vezes, o olhar é de fome, o beijo devorador, a pegada de bicho e parece mesmo é que a intenção é me quebrar. Não sei dizer qual dos momentos prefiro... Meu amor sabe dosá-los como ninguém. Acredite, você também iria se apaixonar.
        Meu amor é o que tenho de mais maravilhoso. É verdadeiro, íntegro, inteligente, divertido, visceral e tem uma relação com seu violão que só não é mais intensa do que a nossa. Ele tem uma voz que me arrepia, um olhar que me toca e a gargalhada mais gostosa de se sentir. 
        Reconheceria o meu amor mesmo virado ao lado avesso e sem fundo musical. O perceberia no olhar, na pele e no coração. Acho que quando a gente encontra o amor, não sente dúvidas. Simplesmente sabe. Alguma coisa deve palpitar, avisando.
        Por isso, ando com atenção. Se o meu amor passar, o apito soa e eu o seguro depressa. Pode ser que ele passe do outro lado da rua. Pode ser que passe por entre meus amigos. Pode ser que passe por meu dia a dia. Se passar por mim, fica. Não passa mais por outros olhares. 

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Medo


              A vida não tem andado fácil. Nunca fora, eu sei, mas esses últimos dias têm sido ainda mais complicados. Tenho sentido tanto medo... Medo de morrer e de viver; medo de rir à toa e de não ver graça em nada; medo ser sensível demais e de endurecer; medo de acreditar e de desconfiar; medo de me entregar e de travar.
                Não pense que está sendo fácil escrever sobre isso. Estou mexendo no que há de menos louvável em mim, que é esse medo constante das inconstâncias da vida. E, ao contrário do que pensam os não- escritores, destrinchar dores em palavras não alivia. Abre ainda mais a ferida.
                A realidade parece enlear-se cada vez mais com a vontade, aumentando minha insegurança. No fim das contas, já não sei distinguir uma da outra. Não sei apontar o que vejo, o que desejo ou o que sinto. Tudo se mistura numa maçaroca indefinível de achismos e impressões.
                Se alguém me pergunta como foi determinada situação, já descrevo com a cautela e loucura de quem analisa palavra por palavra, para não ser mal compreendida. Não satisfeita, repito as partes relevantes reiterando não ter certeza daquilo que presenciei. Aliás, certeza é uma palavra extinta do meu vocabulário. Sinto um medo quase mortal de não ser fiel aos fatos.
                Deve mesmo ser algum tipo de piração. Quem se reconhece como são provavelmente tem alguma consciência do que viu e do que diz. Eu não. Acho que tudo pode não passar de um mero erro de interpretação. É de enlouquecer, e acho realmente que, aos poucos, despeço- me da pouca sanidade que tive.
                Tento arduamente me ater aos fatos vivos. Óbvios e imutáveis. Mas o que se caracteriza assim? Sempre haverá entrelinhas, indiretas, olhares furtivos, sorrisos disfarçados, palavras não ditas... Sempre. As relações por si só nunca são sós.
                E, por mais que eu me esforce, não consigo ficar em paz. Tem também sempre um quê de “as-coisas-não-estão-certas” que eu não sei perceber, quanto mais resolver. Tem sempre um bolo na garganta, lágrimas nos olhos e coração disparado. Tem sempre uma dúvida entre o que se sabe e o que se sente. E tem sempre o medo de estar deturpando a vida.