Liberdade sempre me pareceu uma palavra de conceito
indefinível. Acho estranho como as pessoas vulgarizam o sentido dela,
caracterizando como livres tantos diferentes tipos de prisões.
Primeiro
que conceituar liberdade por si só, já é uma ação fracassada. É o mesmo que
mutilá-la, descaracterizá-la. Para ser livre, é preciso espaço, direção própria
e caminho desconhecido. Não se pode ter amarras, limites ou preconceitos. Tudo
isso me soa bastante contraditório, já que o ser é, em sua essência, dependente
e atado a diversos estigmas.
Dizer
que se vive em liberdade é bonito e até
nos remete a uma ideia de democracia. Erroneamente. Nossa democracia tem tantos
furos quanto essa liberdade que nos é licenciada. Somos controlados o tempo
todo, principalmente de cima para baixo. Sim, a pseudoliberdade democrática
brasileira funciona de ordem hierárquica. Contraditório, não?
Voltando
ao termo cru liberdade, penso em Clarice Lispector, que costumava se referir à
mesma quase que isoladamente como um estado de espírito. Então, estar livre
representaria uma condição social, enquanto ser livre, uma condição pessoal.
Parece agora fazer algum sentido. Mas continua contrastando com o perfil de
sociedade vigente. Seria possível sentir-se livre em meio à tantas regras e
imposições? Honestamente, eu desacredito.
Vejo a
liberdade, como funcionamento mental, condição de existência humana. Acontece
somente dentro da cabeça de cada um. Não somos capazes de executá-la de fato ou
não a definimos corretamente. Ou vai ver, está tudo certo, e eu quero mais do
que a liberdade pode ofertar. Talvez eu seja mais fiel à Clarice do que penso,
quando ela diz: “Liberdade é pouco, o que eu desejo ainda não tem nome.”