Você
não vai saber de nada além daquilo que eu digo. Nunca soube sequer ler os meus
olhos. Quiçá me decifrar. Você não vai saber se minto. Você não vai saber o que
sinto. Você não vai saber se sou sua, nem se alguma vez deixei de ser somente
minha.
Você
nunca saberá o quanto me perturbava diariamente. Nunca ouvirá alguém dizer o
quanto eu ficava transtornada, mesmo sem saber o porque. Até rompi com uma
amiga, a mais próxima no nosso tempo. Fizemos o jogo do: quem machuca mais? E
ambas se perderam. Tudo isso por culpa do vinho indigesto que vocês tomaram na
casa dela, ao som do silêncio da minha ausência.
Você
não sabe, nem seria eu a te contar, que os nossos encontros casuais me
enlouqueciam. Vivia uma semana inteira de frio, chuva, choro fácil e riso
travado. Você me transtornava. Não sei o que me doía mais, a falta de você nos
intermináveis dias ou lembrar da sua existência vez em quando. Volta e meia
ouvia a música que nos canta e constatava que ela não ditava uma promessa, nem
se fazia profética.
Você
não soube e jamais saberá que pedi aos santos e orixás que te afastassem de
mim. Eu era puro desespero disfarçado de
paz. Implorei que me permitissem seguir sem você. Que impedissem qualquer
cruzamento em nossas vidas. Que nós nunca mais nos víssemos. Que eu nunca mais
soubesse de você. Que não houvesse mais a gente. Parece loucura... E realmente
é. Deve ser algum tipo de excesso de sobriedade. Consciência demais faz a gente
surtar mesmo.
O
que você sabe já, é que não funcionou. Nem os santos me pouparam de você.
Poderia culpar o acaso ou o destino, mas o verdadeiro (ir)responsável por isso
foi você, que continuou a me ligar com o passar dos anos. Mesmo quando não
havia assunto. Mesmo quando não havia mais semelhanças. Mesmo quando parecia
não haver nem mais discordâncias.
Agora,
você sabe o mesmo que eu. Que estamos à mercê do destino e de nossos caminhos
tortuosos. Quanto mais se anda, mais se desencontra, e mais se aproxima. Como
pode? Matemática confusa a nossa. Vidas complicadas as nossas. Corações
orgulhosos esses nossos.