Às vezes, tenho a
impressão de que não caibo em mim. Essa falsa sensação de amplidão se dá pelo
amor que não sabemos se temos, criamos, usamos ou libertamos. É sentimento
demais pra pouca matéria. E sentimento forte, ardente, latente.
É um desses amores ensandecidos
que de tanto amar, fica doentio. Pulsa-me o órgão amador, corre-me o sangue
quente e lateja-me o impulso de repetir incansavelmente um: “eu te amo!”
gritado, quase que esbravejado, aos seres amados.
Amor que ama sem
medidas parece até agressivo, à primeira
vista. Mas é tão doce e suave quando compartilhado... Quanto o mais profundo
dos amadores pode ser amado. Assusta aos desavisados, pois serve-se de uma
força desconhecida, mesmo aos já íntimos ao amor. Reúne toda a estrutura que os
tolos juram ter, bagunça e desedifica.
Amor desenfreado é
mais eficaz do que qualquer crença ou fé. Torna o elefante capaz de voar, a
tartaruga capaz de correr e a águia capaz de nadar. Faz do cientista, um
religioso; do filósofo, um calculista; e do engenheiro, um poeta. Realiza
milagres a olhos nus e crus. Transforma demônios em santos e ateus no próprio
Deus.
Amor, quando é amor de
doer, não preenche, transborda. Amador, que nasceu para amar, não ama, abençoa.
E amado, quando sabe o ser, não só recebe, mas também reflete.