Quem sou eu

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“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." (Clarice Lispector)

sábado, 13 de outubro de 2012

Eu sei


Eu sei
Que é pra frente que se anda
Mas eu mais pareço um caranguejo
Tento sair, fugir, partir
Mas é só o passado que eu vejo.

Eu sei
Que para ser feliz, é preciso se abrir
Mas quanto mais forço o casulo,
Mais me enterro em dez, cem,
Mil bonecas russas em mim.

Eu sei
Que a fé de alguém já moveu montanhas,
Que quem acredita sempre alcança,
Mas comigo isso não funciona.

Eu sei
Que dor de amor dói no coração,
Mareja os olhos e inspira canção.
Mas em mim, não.
Machuca o estômago, fere como úlcera
Parece mais doença ao invés de paixão.

Eu sei
Que não gosto de poesia
E rima me irrita,
Mas é pra ela que eu corro quando vem o grito
E no sufoco,
Permito-me destrinchar frases mal formuladas
Em rimas pouco pensadas.

Eu sei
Que desejo um conto de fadas,
Uma história pra contar emocionada,
Uma música pra me sentir embalada
Mas na minha tragicomicidade,
A comédia rouba a cena de romance
E eu acabo sempre frustrada.

Acabou


               Acabou. Já não há tristeza, ansiedade ou vontade. Os olhares que outrora se encontravam, agora sequer se procuram. Já não há expectativa, nem suposições. Os codinomes e metáforas se perderam em meio às entrelinhas. Não, já não há beleza nem alguma poesia. Acabou até mesmo minha energia.
                O sentimento que me faz vigília imperante é a frustração. E, sinceramente, eu nem tenho tentado resistir. Não que eu curta a dor, como os poetas mal amados costumam insistir. Mas eu aprecio demais a reciprocidade para dar-me por satisfeita com as migalhas que me tens oferecido. Aprendi a ser assim. Depois de tanto amor não recebido, a gente aprende a perceber quem é fonte e quem secou. E você, sinto dizer, jamais jorrou amor.
                É justamente o que preciso: um laço infindo. Então, não adianta te procurar, me estreitar, nem tentar nos acertar... Não funcionará. Estamos fadados a não ser, é um fato. Posso tentar me inspirar no seu comodismo e chamá-lo de paciência. Bem, se você o chama de bom senso, chamo também o meu como quiser.
                Acabou. Se não há borboletas desnorteadas no estômago, perde o sentido. Se não me deixa tonta, cadê a graça? Se faz sofrer, já não tem porquê. Acabou o eu e você que nunca nos tornou nós. Não aconteceu porque não haveria de acontecer. E não, eu não vou mais tentar te - ou me - convencer de que ainda pode ser. Acabou.

Go Back.

       Vontade de chorar, gritar, espenear. De criticar e xingar, mesmo a quem não se pode culpar. De socar até a parede do quarto. De se ferir fisicamente, pra ver se a dor de dentro passa.
       Vontade de recorrer àquelas resoluções que nunca são resolutas, de não pensar, não ligar, não procurar. Quero não mais te querer, não precisar disfarçar, não fingir, não ter que sorrir. Não esbarrar nela, baixar os olhos, nem me culpar. Quero mesmo é te vomitar, te cuspir, te expurgar.
        Vontade de voltar à vida pré-você. De não te esquecer, por não te lembrar. Vontade de arrancar as páginas da agenda, como se você não tivesse havido. Vontade de recomeçar de onde me parei em você.