Escrevo essa carta, como a primeira de muitas que não serão endereçadas a você. Apenas ficarão guardadas, arquivadas na mais funda das gavetas. Armazenadas, assim como o meu amor por você. Que, de tão escondido, mal posso encontrar. Mas de nada adianta, porque sinto- o vivo, pulsando, tentando sair, querendo explodir.
Escrevo somente em prol do passado, apesar da consciência de que não retornará. Eu continuei em frente, mas você ficou por lá. O futuro que passou, nos fez também passar. E nos afastou, como não era de se esperar. Seguimos por caminhos distintos, distantes, alheios ao nosso desejo de permanecer na mesma reta. Escolhemos, sem querer, estradas paralelas. Há quem diga que elas se encontram no infinito. Eu realmente quero acreditar. Mas será que esse infinito demora a chegar?
Num antigo futuro, descobri que tenho capacidades admiráveis. Pensei até que te surpreenderia. E então, vem você dizendo que já sabia, pois me conhecia. Você me admirava antes mesmo de eu ter consciência do quão admirável sou. Vejo as suas fotos, ouço histórias a seu respeito, e percebo que o futuro que você viveu também te modificou. Te intensificou. Mas sei que, na essência, você não mudou.
O passado que vivemos juntos foi um grande presente. E não vou dizer aquela coisa batida de “a gente era feliz e não sabia”. Porque a gente sabia. A nossa felicidade era aproveitada a cada segundo, a cada abraço, a cada risada. Sinto uma pontinha de tristeza por não ter sido o seu futuro, mas ainda alimento a esperança de retornar ao seu presente.
O nosso elo se desfez, as afinidades evaporaram e até as brigas parecem ter sido sofridas noutra vida. Mas o meu amor, eu te disse... Continua aqui, em algum lugar. Oculto em mim, trancado em mim, escondendo-se de mim.
Somos a prova de que excesso de amor não mata, mas rompe laços. Seu amor afastou-me de você. Como pode? Amor que não une, não vale. Provamos que nossos laços não eram de aço... Desfizeram-se, desfizeram-nos, em meio à tempestade.
Olha só... Resolvi escrever uma carta a você, e só consigo falar sobre o que deixamos de ser. É saudade. E vai passar, eu sei que vai. Mas, por ora, permita-me. Estou profundamente incomodada com essa ausência. Sua falta me dói às vezes. Mais até do que posso expressar.