Quem sou eu

Minha foto
“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." (Clarice Lispector)

sábado, 24 de dezembro de 2011

Ver, Fazer, Viver



É disso que eu gosto.
O sorriso aparecer
A música transcender
E a arte florescer.
É isso que sei fazer
É isso que amo ver
É isso que me arrepia viver.

A arte que distrai,
Provoca o sorriso
E esvazia os pensamentos
É a mesma arte que inunda a mente,
Toca o coração
E eleva a alma.
É isso que sei fazer
É isso que amo ver
É isso que me arrepia viver.

A arte que chega aos ouvidos
A arte que atinge os olhos
A arte que escorre na pele
A arte que sai de dentro
A arte que vem de fora
 A arte que representa a vida
A arte que jorra vida
É a mesma arte que me faz viver.
É isso que sei fazer.

domingo, 18 de dezembro de 2011



Ela vivia de amores, paixões, dores e tesões. Foi assim desde sempre, desde que se conhece por gente. Sofreu, se magoou, se precipitou, se enganou... E enrijeceu. Mesmo ainda adocicada, ela desistiu de montar seu próprio conto de fadas.
Isso porque o tempo passou, e ela cresceu. Poderia dizer que também amadureceu, mas não foi exatamente assim. Seu coração, antes pertencente ao mundo, agora é só dela. Está muito bem guardado e protegido, para que não seja mais displicentemente tomado e depois abandonado.
Ela está mais desacreditada na vida, e talvez, nela mesma. Seus sonhos, que antes soavam como projeção do futuro, agora não passam de claras utopias... Pensa que sonhar tira o foco da realidade, ao invés de alimentar a vida e a alma.
No que resultou tamanha passionalidade vivida? Em decepções, lágrimas e olhos inchados. Mas ela não está mais disposta a se permitir sair do chão. Mantém seus pés firmes, cravados como raízes, em terras conhecidamente férteis.
Ela tornou-se egoísta e possessiva. Seus sentimentos são somente dela. Suas dores e amores são sofridos no silêncio de uma alma já emudecida. Emudecida. Endurecida. Entristecida.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Cigana

      Um arrepio na alma agora encolhida, antes cheia de vida. Um frio congelante no coração, antes tão aquecido. Lágrimas nos olhos, antes brilhantes e expressivos. Foi assim que você me deixou. Foi isso que você nos deixou.
      O seu repouso, que soava como paz, agora nos chega em forma de dor. A ausência do som das batidas de seu coração martela como um estrondo em nossas memórias. Sua gargalhada, para sempre calada, faz um eco ensurdecedor.
      Adentrar a casa de vidro nunca mais terá o mesmo efeito em mim. Será estranho olhar pela janela e não ver-te na varanda, sentar- me à mesa sem procurar pela forjada cigana, tecer comentários irônicos, sem seus olhos ansiosos alertando. Tudo será triste, tudo parecerá estranho.
      A vizinhança estará mais desanimada. E até o sol deixará de brilhar com tamanha força. A beleza de seu poente virá acompanhada de uma tristeza silenciada. Não faremos comentários a seu respeito, não falaremos sobre você, nem sobre a falta que você faz. Mas as coisas não ditas marejarão incontáveis pares de olhos maduros, e instigarão os infantis, à beira mar... Enquanto tentam reencontrar a poesia evaporada daquele lugar.
     Sua partida se fará muito mais presente do que as recentes chegadas. Estas pessoas, comentaremos em silêncio, jamais saberão quão incrível fora viver ali outrora. Vieram desavisadas, inconscientes de que a alegria daqui se dissipara.
     Não te traremos de volta. Não te teremos de novo. Você partiu, deixando muito de si conosco, e levando muito de nós consigo. Cuide bem de nossos sorrisos esquecidos. Fique bem. Esteja bem. Nos tenha bem.



domingo, 27 de novembro de 2011

Doação de mim

Tenho me doado tanto, que me pergunto às vezes, o que me sobra de mim. Sinto a impressão de que me vou aos poucos, aos muitos, aos trancos. Sou um conjunto de sins, de concessões, permissões, aceitações. Mas meu eu clama por um pouco de nãos também.
Tenho precisado receber, só pra variar. Estou sentindo bater a necessidade de me guardar, me respeitar. Meus pés estão exaustos de seguir por trilhas que não são suas. A alegria que carrego, cansou de fazer graça noutros circos. E a rainha que vive em mim, não pode mais governar reinos alheios.
Faremos assim, então. Cada um que cuide de seu próprio castelo. Minha matéria está cansada, e nem minh’alma foi poupada. Doar-se por inteiro, cansa. Não amar-se o suficiente, também. Agora, eu preciso de mim. Vou ficar aqui, alimentando-me de amor. Recebendo sins, que outrora distribuí, sem ter consciência de que também precisaria ouvir.


Carta que não vai chegar

                    Escrevo essa carta, como a primeira de muitas que não serão endereçadas a você. Apenas ficarão guardadas, arquivadas na mais funda das gavetas.  Armazenadas, assim como o meu amor por você. Que, de tão escondido, mal posso encontrar. Mas de nada adianta, porque sinto- o vivo, pulsando, tentando sair, querendo explodir.

        Escrevo somente em prol do passado, apesar da consciência de que não retornará. Eu continuei em frente, mas você ficou por lá. O futuro que passou, nos fez também passar. E nos afastou, como não era de se esperar. Seguimos por caminhos distintos, distantes, alheios ao nosso desejo de permanecer na mesma reta. Escolhemos, sem querer, estradas paralelas. Há quem diga que elas se encontram no infinito. Eu realmente quero acreditar. Mas será que esse infinito demora a chegar?

Num antigo futuro, descobri que tenho capacidades admiráveis. Pensei até que te surpreenderia. E então, vem você dizendo que já sabia, pois me conhecia. Você me admirava antes mesmo de eu ter consciência do quão admirável sou. Vejo as suas fotos, ouço histórias a seu respeito, e percebo que o futuro que você viveu também te modificou. Te intensificou. Mas sei que, na essência, você não mudou.

O passado que vivemos juntos foi um grande presente. E não vou dizer aquela coisa batida de “a gente era feliz e não sabia”. Porque a gente sabia. A nossa felicidade era aproveitada a cada segundo, a cada abraço, a cada risada. Sinto uma pontinha de tristeza por não ter sido o seu futuro, mas ainda alimento a esperança de retornar ao seu presente.

O nosso elo se desfez, as afinidades evaporaram e até as brigas parecem ter sido sofridas noutra vida. Mas o meu amor, eu te disse... Continua aqui, em algum lugar. Oculto em mim, trancado em mim, escondendo-se de mim.

Somos a prova de que excesso de amor não mata, mas rompe laços. Seu amor afastou-me de você. Como pode? Amor que não une, não vale. Provamos que nossos laços não eram de aço... Desfizeram-se, desfizeram-nos, em meio à tempestade.

Olha só... Resolvi escrever uma carta a você, e só consigo falar sobre o que deixamos de ser. É saudade. E vai passar, eu sei que vai. Mas, por ora, permita-me. Estou profundamente incomodada com essa ausência. Sua falta me dói às vezes. Mais até do que posso expressar.



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Querer


Você entende tudo errado. Quando digo que te quero um pouco, é pura força de expressão. Falsa mansidão. Eu te quero sim. Mas quero e te quero muito. Muito de você, por muito tempo. A redução é só pra não te assustar, porque se você soubesse o tamanho do meu querer... Eu acabaria por te perder.
Te quero, e quero assim. Acaso. Sorriso. Olhar. Cumplicidade. Simplicidade. Pois quando tudo começa a dificultar, mais parece um sinal para se afastar. E estou nesse impasse. Somos tão fáceis, tão simples, tão... Nós. Por que insistem em nos complicar?
Não faço planos, apenas respeito este meu querer. Quanto mais contido, mais profundo, mais ardente, mais latente. Já não posso esconder. E para quê? Vejo o prazer que você sente em perceber. Sua resposta iminente pulsa de você e impulsa o meu querer.
Estamos num ciclo. Não há saída... Ou, ao menos, não a enxergamos. A vontade desmedida cega toda obviedade. Mas por hora, nos resguardemos. Você tem mais a perder do que deseja, e eu, mais a ganhar do que poderia suportar. Seremos sempre como estamos, onde paramos. Acaso. Sorriso. Olhar. A simplicidade foi embora, e não deve retornar.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Imortalidade


Essa vontade
Esse desejo
Essa sede
Essa ansiedade
Esse desespero

Essa coisa desmedida
Que me confunde, me invade, me inunda
Essa sacudida na alma, que me desestabiliza
Esse impulso de voar com destino final...

Meu destino é a tua nuca
Teus cabelos desalinhados
Teu peito largo, tuas mãos grandes
Meu destino são teus olhos que me mastigam
Tua boca que me anseia
Teus braços que me chamam

Quero arrancar-te as roupas e a pele
Saciar minha sede num só gole
Deixar que nada de ti reste
Quero ter-te dentro de mim
E imortalizar-te, assim



sábado, 5 de novembro de 2011

É só Merecimento

Então, a gente percebe que está bem. De uma hora para outra, de um jeito ou de outro, fica tudo bem. Não sabe quando ou como aconteceu, mas sente que melhorou. A gente volta a rir de besteiras e quase não se lembra das tristezas. Passou. Pois é, aquilo que acreditava- se não terminar nunca, parece que sequer existiu.
Eis que os planos e sonhos voltaram à tona. Eis que o coração voltou ao seu ritmo normal. Eis que a gente voltou a ser o que era. E agora, o cabelo ficou até mais brilhoso, a pele mais sedosa, o sorriso mais sincero, a vida mais bonita. Eis que a gente aprendeu a andar por si só, e descobriu não precisar de companhia.
Por muito tempo os olhos procuraram o mesmo semblante, os ouvidos a mesma voz, a pele o mesmo toque. De repente, passa. E, nesse momento, a gente percebe estar curado de novo... E torce pra vida se movimentar um pouco.
Claro que não foi fácil, nem simples assim. A dor cessara, mas havia sido bastante sofrida. Dizem por aí que isso só acontece para que a paz seja valorizada... Talvez até mais merecida. E isso é uma verdade. A gente mereceu essa paz, que se segue à turbulência. A paz que vem, pra colocar tudo nos eixos novamente, ou pela primeira vez.
Esse sol da manhã entrando pela janela do quarto, a brisa que corre, o som de vida lá fora, a vontade de ganhar o mundo... Tudo isso foi batalhado, tudo isso é merecido. A gente conquistou o direito de sentir e viver tudo isso.



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Caio Fernando de Abreu [2]

"A vida tem caminhos estranhos, tortuosos às vezes difíceis: um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. Sim, existir é incompreensível e excitante. As vezes que tentei morrer foi por não poder suportar a maravilha de estar vivo e de ter escolhido ser eu mesmo e fazer aquilo que eu gosto - mesmo que muitos não compreendam ou não aceitem." 







segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Caio Fernando de Abreu

Acorde, garota! Você é linda, inteligente, tem um ótimo perfume e seus olhos brilham mais que um punhado de purpurina. Por que chora? Perdeu em alguma esquina seu encanto?! Ninguém pode tirar de você seu mais belo sorriso, motivo de idas e vindas saltitantes. Coloque sua música favorita para tocar, respire fundo e faça o que de melhor sabe fazer: ser você.”



sábado, 29 de outubro de 2011

Certo e Errado




De olhos fechados, ela vê tudo em branco. Não preto, como de costume, mas branco. Uma página, ou várias, a serem ainda escritas. Sente-se cercada por um imenso e opressor vazio, pressionada a escrever qualquer coisa que seja.
Não lembra de como chegou até aqui e não faz idéia de como, nem para onde seguir. As companhias também mudam a cada esquina, poucas não tomaram rumos diferentes. Será que os outros foram pelos caminhos certos, enquanto ela insiste no errado? Mas qual é o errado? Qual é o certo? Aliás, existe certo e errado?... E eles são de fato antônimos?
Pois pra ela, certo e errado parecem se confundir, se misturar, se complementar. Não existe linha de separação, e sim distintos ângulos de visão. Afinal, o errado é o certo ao avesso, e o avesso é apenas um ponto de vista. Tratam-se da mesma coisa, organizada ou não.
A desordem mental dela é compreensível e comum. Tomou decisões que agora parecem induzi-la a caminho algum. Mas ela sempre seguiu seu coração, não é isso que todos dizem? Pois, então. Ela seguiu o seu coração e não descuidou da razão.
“Cada coisa no seu tempo.”
“O sol brilha para todos.”
“Orai e vigiai.”
“Cuide do seu jardim, que as borboletas virão.”
Para que tanta frase de efeito? Para acalentar? Ela dispensa piedade. Se não houvesse uma quantidade infindável de pessoas infelizes, essas palavras não seriam tão repetidas. E, de infelicidade, ela já está bem servida.
Então, não resta outra opção. Ela vai seguir escrevendo novas páginas, se arrependendo de algumas antigas, e se orgulhando de outras. Acho que é assim com todo mundo mesmo, talvez ela nem tenha saída. Pra cada página certa, haverá no mínimo duas erradas, ela sabe disso. Mas o que é certo? O que é errado? Aliás, existe certo e errado?

domingo, 23 de outubro de 2011

Um mais um

Integrante do meu ser,
És parte do que sou
Fragmento mais puro de minh’alma
Pedaço mais bonito de meu coração
És meu grande e infinito amor.
Amores vêm e vão
Às vezes, apenas amores vãos,
Mas tu não.
És toda a minha grandeza,
Meu maior presente em vida,
Minha escolha mais sábia,
Melhor parte do que sou.
Orgulho-me de mim,
Por ter-te e pertencer-te.
Esse amor,
Nosso amor, transcende existências.
Amor sem fim
Amor de irmão
Amor que se reconhece em qualquer situação
E, sem perceber, se procura
E, sem procurar, se encontra
Amor que se reencontrará infinitas vezes,
Até que o eterno deixe de existir.
Nosso um mais um, é um
Meu eu se completa em ti.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Valer à Pena


Coisa mais louca essa tal de felicidade. É indefinível, indescritível... Difícil de ter, e fácil de apreciar. Pode ser totalmente emocional, mas de tão intensa, torna-se física. Altera o humor, o rumo, a vida toda. Parece uma semente plantada dentro da gente, que nos faz abrir em flor, em sorriso, em amor. Faz a vida valer à pena.
Sem razão aparente, vem um tremor. Uma vontade de gritar, abraçar até sufocar aquela pessoa que você acabou de avistar. Vocês quase não se encontram, mas quando isso acontece... Ah, é pura felicidade. Porque ela te faz feliz como ninguém. Porque ela tem um jeito só dela, e te faz sorrir só por ser quem é. Conhecê-la valeu à pena.
Uma borboleta cruza os seus olhos, e de repente, você sente aquilo. Está encantado. Você a viu por segundos, mas foi o suficiente para lembrar-se das enormes pequenas belezas do mundo. Sentindo-se feliz inesperadamente, aquela borboleta transeunte no seu olhar, te faz querer sair do próprio casulo. Sair de casa valeu à pena.
O dia foi horrível. Daqueles que a gente pensa que teria sido melhor ter continuado a dormir. Mas isso só até você contar para um amigo toda a sua tragédia embutida numa comédia... E ele soltar aquela gargalhada alta e gostosa. Não qualquer uma, mas aquela que faz o seu coração e a sua alma rirem junto. Pronto. O dia valeu à pena.
No fim das contas, a gente percebe que os clichês têm alguma razão. Não dá para ficar deitado na cama, esperando a felicidade chegar. Tampouco ir atrás dela enlouquecidamente. É preciso apenas seguir o caminho, continuar vivendo. Ela não é o pódio de chegada, nem a própria estrada, mas vez ou outra, a gente tropeça nesse sentimento. E aí, quando se vê, você percebe que é feliz e todos os passos até aqui valeram à pena... E constata que viver vale sim muito à pena.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Diferentemente igual

Ontem, diferentemente de como havia sido sempre, ele disse não a ela. Uma negativa acusada ao invés de dita. Uma acusação feita através de um olhar que não via, não enxergava, apenas repelia.
Em contrapartida, ela sentiu-se doer por inteiro. Não por causa do afastamento dele, entenda, mas por si própria. Ela não o queria para a vida, nunca quis. Mas ele não a queria naquele momento. Por quê? O que havia de errado? Por que serem apenas ele e ela separadamente? Se ambos estavam ali, por que não tornarem-se eles?
Ela passara por isso outras vezes, mas é diferente. Sempre é. Claro, cada história é uma história e aquele outro homem não era este. Este é jovem, tranquilo e despreocupado. Ainda não carrega o peso da idade e da vida que o outro mantinha sobre seus ombros curtos.
A relação também não era a mesma. Com aquele, sentia-se esquecida no canto do quarto. Agora, sente-se no alto de uma estante, guardada até com certo cuidado. Mas ela não quer isso. Nunca quis. Deseja ser o brinquedo preferido, o que fica sempre ao alcance, em cima da cama, ao lado do travesseiro.
Então, ela tomou uma decisão. Chega. Cansou. Se ela não serve para ele sempre, é porque primeiro, ele não serve para ela. Já mudou de rumo tantas vezes, não será difícil agora. Ela está triste, como era de se esperar. Mas somente por ter se enganado de novo.
Na verdade, quem de fato enganou-se, foi ele. Pensava estar guardando, quando estava afastando. Pensava estar seduzindo, quando estava repelindo. Pensava ainda tê-la, quando já a havia perdido.



terça-feira, 6 de setembro de 2011

Eco Seu





Dentro de todo o silêncio de hoje, o que me acalenta de fato é o som das batidas de seu coração. A cada bombear, sinto um sopro de vida. Nova vida. Sua vida. Minha vida. Uma nova inspiração.
Ruído por ruído não serve. Não pode corroer, deve alimentar, fazer crescer, desenvolver. Barulho não contenta, é desedificante. Oca como estou, torno-me eco do exterior. Ressôo baixa, fraca e lenta a sua pulsação.
Sua sonoridade me invade numa corrente envolvente de luz, calor e poesia. Estou poeticamente iluminada e aquecida por palavras. Palavras que brotam do meu vazio ao ecoar você. O que vejo, como vejo... O que sinto de você, por você.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sobrevivendo


E, de novo, me vem a vontade de chorar. Aquele velho e conhecido choro engasgado, preso, inibido. É preciso liberar as lágrimas enraizadas em minh’alma. É preciso libertar-me de toda a angústia. É preciso mais do que apenas sobreviver.
Deixo ir tudo o que se excede em mim. Deixo cair, sair, fugir. Mais do que deixar, praticamente rogo para que se vá, e logo, sem demora, sem drama, sem pausas. Permito-me transbordar e assim, expulsar os maus fluidos. A mágoa, a dor e a tristeza, que sigam seus caminhos sozinhos. Não serei mais acompanhante, nem moradia.
Voltarei a ser o que fui outrora. Sensível, amável... humana. De nada serve enfrentar o mundo, sem enfrentar a si próprio. O excesso de força anula a doçura. E endurecer é fácil. Sobreviver também é fácil. Difícil é ter humanidade e viver com verdade.




terça-feira, 9 de agosto de 2011

Flores e Espinhos




Quem vê de fora, pensa que a vida dela é perfeita. E de fato parece, mas não é. Ela sofre igual à todo mundo. Também fica triste, sente dores, perde amores e chora por carência.
Ela é aparentemente realizada, madura e até mesmo mimada. Só que não é bem assim. Na verdade, essa mulher tem menos amigos do que pensa, age ainda como uma menina e vive de escolhas erradas. Sua ingenuidade não é por falta de vivência, e sim por excesso de fé nas pessoas. Porque ela confia nos outros, deseja o bem de todos e acredita poder ajudar a todo mundo.
            Seu caminho é tortuoso,e  as flores que colheu eram cercadas por grossos espinhos. Se hoje possui alguns buquês, foram a custo de vários ferimentos. Mas valeram à pena, porque os cortes secaram rápido, enquanto as flores continuam perfumando e embelezando o seu jardim.
            Ela já foi traída, enganada, subjulgada e desrespeitada. Mas perdoou e seguiu em frente. Porque o coração dela é difícil até de imaginar. Imenso, acolhedor, impossível de limitar.
            Muita gente já a aconselhou ser mais atenta e cautelosa. Mas desconfiar significa endurecer. E ela prefere continuar a acreditar, desejar o bem e tentar ajudar.
            Essa mulher ainda será a maior flor do jardim de alguém. Sem dúvidas, arrancá-la de suas raízes irá machucar... Mas valerá à pena. Afinal, as mais belas e perfumadas flores são repletas de espinhos.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Hoje

       Quando a gente pensa que já passou, acabou e que nada mais pode nos atingir, descobrimos que as possibilidades são inúmeras. Descobrimos que as decepções são incontáveis e os motivos incalculáveis.
       Ao deduzirmos que já sentimos todos os tipos de emoções, a vida mostra que, mais uma vez, estávamos enganados. Talvez seja para nos testar. Talvez seja para nos dizer: “olha, você não sabe de nada”. Talvez seja para nos fazer amadurecer.
       Confesso que ando bastante desacreditada dessa última opção. Até mesmo porque, como poderei estar crescendo, se só o que sinto é vontade de parar onde estou? Cheguei naquelas bifurcações esquisitas. Aliás, essa é uma espécie de ‘trifurcação’.
       Estou estagnada. Em geral, um tipo de força me puxa para seguir algum dos lados. Mas agora, não. Só tem uma força, que me puxa pra baixo. O problema é que descer não é uma opção. Tampouco sentar, chorar e esperar.
       Como proceder? Não consigo saber... Não quero fazer. Prefiro ficar aqui, exatamente onde estou. Somente assim, meu coração se reconstruirá e poderei, enfim, voltar a caminhar.
       Amanhã, prometo desfilar o meu melhor sorriso. Vou recebê-lo com o meu mais animado bom- dia e presenteá-lo com o mais acolhedor dos abraços. Mas por hoje,você terá apenas as minhas lágrimas, a minha ausência ao sol e o meu olhar decepcionado. Resignada, triste, desmotivada estou.




quinta-feira, 21 de julho de 2011

Coisa




E hoje estou com essa coisa.
Essa coisa palpitante dentro de mim
Sinto-me presa em meu próprio peito.
E não é uma coisa das boas,
É daquelas coisas que batem e ficam
Que gritam, agitam e perturbam.

Tenho essa coisa que faz um nó na garganta,
Seca a boca e inunda os olhos.
As mãos tremem no compasso do coração
E a cabeça fica em disparada, tentando descobrir a razão.

Essa coisa não é vontade,
É pura ansiedade.

Mas ansiedade sem motivo aparente
Não pode ser denominada,
Nem solucionada.
É apenas coisa.

E o que é uma coisa?
É tudo aquilo que não tem nome,
Porque não devia importar.
Mas de tanto incomodar,
Temos a necessidade de nomear.

E como falar de algo que não é, apenas está?
Chamamos de coisa,
Já que não sabemos explicar.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Reconhecimento

Eu me conheço bem. Ou seria melhor dizer que sei exatamente quem sou neste momento? Porque em alguns minutos, posso tornar-me irreconhecível. Crescer, regredir... Ou apenas mudar.
O ser é muito subjetivo, e está sujeito a constantes mudanças. Ou inconstantes. Aliás, a graça está justamente aí. Nisso de não se poder definir. A minha magia é a capacidade de mutação. Mudo o tempo todo, por qualquer razão.
Basta ouvir uma música, ver um filme, ler um texto, reencontrar alguém... E pronto! Já houve a mudança. Parece que soa um ‘clic’ na minha cabeça, e não sou a mesma pessoa. De um segundo para o outro, estou transformada, reinventada.
Talvez seja por isso que eu lido bem com paixões. É como uma topada. Desestabiliza, dói e incomoda. Mas logo depois, passa. E o máximo que acontece é você ter cuidado ao usar aquela sandália de novo, porque não tem boas lembranças de quando a calçou pela última vez.
Adoro metáforas! Fazem tudo parecer mais simples. As preocupações tornam-se bobas. E eu curto demais o que é simplificador. Afinal, tem coisa mais impulsionadora do que sentir-se idiota? Tratamos imediatamente de seguir. Para trás ou para frente. Mas saímos da inércia.
Eu estou sempre me importando com besteiras. Então, estou sempre em movimento. Senti, pensei, escrevi... Montes de nada. Mas o meu nada tem conteúdo. O meu nada faz diferença. Então, aproveite. E tente viver a sua mudança, qualquer que seja.
Porque eu já mudei. Não sou a mesma pessoa que começou a escrever esse texto. Agora não me reconheço... Sou mais leve, mais inteira, mais clara até mesmo pra mim.




segunda-feira, 18 de julho de 2011

Vamos?



Vamos embora comigo?
Dê-me a mão agora
E procuremos um abrigo

Seja num prédio, casa, cabana ou chalé
Se prometeres vir, pouco importa-me o destino,
Irei ainda que a pé.

De frente para o mar,
Cercado por um jardim,
No meio dos bichos,
Ou entre construções
Que diferença faz a paisagem,
Se o meu amor não está só de passagem?

Meu coração fica em festa
Só de imaginar-me vivendo contigo
Ainda que uma vida modesta.
Não me agüento em mim,
Sinto uma alegria sem fim!

E então?
Vamos embora comigo?
Dê-me sua mão agora
E sigamos para o nosso abrigo. 

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Reiniciando Ciclos

Fique à vontade para retornar ao meu mundo, pois tua presença já não incomoda mais. A pontada no meu peito ao te ver, sumiu. O sorriso nos meus olhos, também. Agora, posso dizer que não só me curei de ti, como também de mim.
Desculpe, estou sendo injusta. Devo agradecer-te sem fim. Porque se hoje sou indiferente a ti, é inteiramente tua responsabilidade. Sou sinceramente grata por me libertares de tuas garras.
Ao me mostrares quem de fato és, permitiu-me perceber uma grande contradição feita por mim. Desejei de ti um comportamento que não condiz com tua personalidade. Desejei de ti o que espero encontrar no meu amor. Desejei que priorizastes as minhas prioridades. Desejei que fostes alguém que não és.
Agora, revitalizada, não pretendo isolar este meu pobre coração numa gaiola, para que não se machuque mais. Irei soltá-lo em campo aberto, e fatalmente, ele retornará ferido. Precisarei então, afagá-lo e protegê-lo do mundo por um tempo. Breve tempo. Quando a dor cessar, o soltarei de novo. Assim será, por algumas vezes. Repetidas vezes. Infinitas vezes.
O sofrimento, não importa quão doloroso possa ser, é preferível ao nada. A falta de sentimento pode enlouquecer um ser sensível. Ferimentos surgem e cicatrizam-se o tempo todo. É doloroso, mas passageiro. Já o vazio, a ausência da palpitação... Daquilo que toca, treme, arrepia... Arrasa a sanidade de qualquer pessoa.
Por isso, não me arrependo de manter meu coração livre. Ainda que signifique muitos futuros curativos a fazer. Tenho dentro de mim, um músculo pulsante ansioso por novos ares; à minha frente, um imenso campo ensolarado; e na minha mão, muitos esparadrapos.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Saudosismo

Que saudade!... Mas a de hoje, não é igual à de sempre. Hoje é diferente. É a percepção da ausência, sem a lembrança da presença. Você entende? Porque a saudade comum é proveniente da memória afetiva, mas o incômodo no meu peito advém da curiosidade, da vontade, do desconhecido.
A minha saudade é outra. Sinto falta de pessoas que não conheci, momentos que não vivenciei, paisagens que não admirei, sabores que não provei, lugares que não visitei, palavras que não escutei, histórias que não li, músicas que não ouvi, emoções que não senti, decisões que não tomei... Sinto falta de tudo que eu nunca vivi.
Essa é a saudade daquilo que eu poderia ser, mas não sou. A saudade de quem eu seria e do que teria vivido, caso as minhas escolhas fossem diferentes. É a saudade que não funciona no campo da memória, mas sim na imaginação.
Sou apaixonada pelo que é incerto. A certeza torna a vida monótona, entediante. A dúvida não. Esta é instigante. Adoro as frases que começam com o se. Se eu fosse, se eu ficasse, se fizesse, se acreditasse... Ah, que delícia! São tantas as possibilidades!
O gostoso da vida é viver. Escolher, arriscar, fazer. Errar, voltar, aprender. E sim, às vezes, acertar. Mas sempre buscar por mais, nunca se contentar.


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Auto- sabotagem





Às vezes penso nele
E, em alguns momentos, penso em nós.
Penso em como seríamos juntos
E no quão isso me soa ideal.
É nessa hora que me lembro dela
E constato, ainda que contra a minha vontade, que eles seriam perfeitos.
Ela, de cumplicidade e astral infinitos.
Ele, de doçura e simpatia incomparáveis.
Deduzo não haver espaço para mim.

Mais uma história que não é minha
Mais um romance que não é meu

Percebo que sempre projeto mais do que realizo
E que sou apenas coadjuvante da minha própria história,
Porque vivo num ciclo de auto-sabotagem interminável.
A desesperança e a descrença estão sempre na medida do entusiasmo
A frustração é grande
E machuca.
Da dor, nascem lágrimas
Que lavam meu rosto e renovam minh’alma,
Dando- me a falsa impressão de prosseguimento.
Mas seguir para onde, se meu caminho é circular?

Não tem jeito,
Preciso mesmo me conformar.
Lembrar da existência dele me acelera até a alma
Me dispara, perturba e faz flutuar.
Devo permitir que se instale a dor
Caso deseje, por um ínfimo momento, estrelas alcançar.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Como Ostras

Preciso calar-me. Esta auto-exposição gratuita em nada me acrescenta, de nada serve. Mostro-me pelo simples prazer de ser analisada. Prazer estranho, sabotador, desprazeroso.
Desconheço a sensualidade do que é misterioso. Sou explícita, nítida, permito-me ser invadida. Minh’alma não é propriedade privada. É bem público. Quem chega vê, e basta querer para levar consigo um fragmento.
            O coração que dentro de mim bate, não é músculo, e sim, flor. Flor vermelha, pulsante e aberta. Flor meio que despedaçada, por ter tido muitas de suas pétalas furtadas. Mentira... A quem eu quero enganar? Minhas pétalas foram dadas. Impensadamente, me deixei ser desfalcada.
            Desenho-me em versos e prosas. Em estruturas diversas, palavras complexas e sentimentos inversos. Transponho para a sua visão a minha própria versão de mim.
            Preciso calar-me, já disse. Beleza só deslumbra ao ser descoberta. A obviedade é tão entediante. Busco na natureza a inspiração e o exemplo que necessito. Aprendi, assim, a admirar e invejar as ostras. Elas vivem fechadas e, esporadicamente, quando se abrem, surpreendem o mundo com lindas pérolas.



segunda-feira, 16 de maio de 2011

Outono



O tempo passou rapidamente, eu percebi. Notei nas folhas caídas ao chão, no vento gelado e em meu próprio interior que as coisas haviam mudado. A ferida que ainda pouco sangrava, agora parece cicatrizada. Sendo sincera comigo mesma, admito que ainda dói. Pouco, mas ainda dói. A consciência da sua existência continua a me machucar. Bem menos, é verdade, mas ainda machuca.
Ontem, por exemplo, eu fui ao seu mundo. Dei uma passada rápida, sem pretensão alguma de te encontrar, Mas de nada adiantou, pois te vi em todo lugar. A cada esquina que virava, em cada carro que passava, em cada bar que avistava, lá você estava.
O passeio previamente planejado para diversão, tornou-se motivo de grande perturbação. Quando o que eu mais queria era te esquecer, tudo me fazia lembrar você. Mas reconheço que, de certa forma, procurei por isso. Afinal, vir ao seu mundo e desejar sair ilesa, é sinônimo de estupidez ou insanidade. E estúpida, insana e perturbada, estou. Eu disse estou, e não sou. Esta é apenas uma fase, um momento transitório, passageiro, e espero que seja ligeiro.
Abstraí você, há algum tempo, do meu mundo. Mas é bastante complicado. Porque vários itens deste meu mundo, fizeram parte daquilo que um dia chamei de nosso mundo. Erroneamente, eu sei. Nada do que vivemos foi de fato algo em comum. Vivemos o meu amor, a minha paixão, o meu desejo. E agora, eu vivo sozinha a minha dor.
Pois é, o tempo passou. Rápida e despercebida, a estação mudou. O outono chegou, escondendo o sol, baixando a temperatura e regando de chuva as ruas. Eu aprecio esse tempo ameno, a paisagem serena... Do verão, não sinto falta de quase nada, só de mim e de você, em nosso mundo fantasioso.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Preciosidades



Curioso como algumas pessoas marcam nossas vidas, mesmo em pouco tempo. Deve ser uma espécie de talento, acredito. Amar e se fazer amado é tão difícil, tão raro. Exceto para essas pessoas de alma clara e coração acolhedor.
Tenho muitos amigos. Alguns precisaram me conquistar, outros coube a mim tentar. Mas cada um deles é interessante, tem um quê de apaixonante. E o que me cativa, é sempre alguma característica que faltava à minha vida, ainda que eu não percebesse. Todos os tesouros que carrego comigo, são pessoas que trazem dentro de si algo que não tenho, ou que perdi.
Uma das minhas pérolas mais caras me alegra como ninguém, e vive repetindo que eu a divirto. Será que ela não vê a leveza de espírito que tem ou o que nos faz chorar de rir não é a graça da outra, mas sim a graça de estarmos reunidas? O meu maior diamante é de transparência que impressiona, e de beleza que cega. É encantador, puro e inquebrável. Curioso como uma pedra tão dura pode receber com tamanha delicadeza e receptividade a quem procura seu colo.
Tenho também esmeraldas, safiras, jades, opalas, rubis, topázios, turmalinas, alexandrites e benitoítes no meu acervo de preciosidades. Umas brilham de ofuscar, enquanto outras são tão opacas quanto valiosas.
Zelo é pouco. Eu tenho verdadeira admiração e encantamento pelos meus tesouros. Carrego-os comigo aonde vou. E não tente roubar um só que seja. De princesa, transformo-me em dragão para protegê-los. Cuspo fogo até incendiar, se alguém me furtar ou os danificar.