Quem sou eu

Minha foto
“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." (Clarice Lispector)

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Carta


Tenho tido uma vontade constante de te escrever. Acho que você merece saber o quanto te fiz meu, apesar de não ter bem certeza de que você iria gostar ou se preocupar. Talvez todo esse te querer tão bem e comigo, tenha te assustado. As pessoas não estão acostumadas a receber doçuras e amores despretensiosos.

Mas ainda assim... Ainda que você tenha se afastado conscientemente, ainda que prefira seguir por caminhos alheios ao meu, ainda que me proíba de viver você. Ainda acho que deve causar algum tipo de felicidade saber que se existe em alguém como você existe em mim.

         Por isso, eu te digo agora que tenho te vivido. E tenho feito isso da forma mais plena e bonita. Te guardo em mim, te penso, repenso, trepenso e te poesio o dia todo. E (re)conheço a felicidade de te ter na minha cama a cada dia, desde aquele único dia. 

Não saber


Você não vai saber de nada além daquilo que eu digo. Nunca soube sequer ler os meus olhos. Quiçá me decifrar. Você não vai saber se minto. Você não vai saber o que sinto. Você não vai saber se sou sua, nem se alguma vez deixei de ser somente minha. 
Você nunca saberá o quanto me perturbava diariamente. Nunca ouvirá alguém dizer o quanto eu ficava transtornada, mesmo sem saber o porque. Até rompi com uma amiga, a mais próxima no nosso tempo. Fizemos o jogo do: quem machuca mais? E ambas se perderam. Tudo isso por culpa do vinho indigesto que vocês tomaram na casa dela, ao som do silêncio da minha ausência.
Você não sabe, nem seria eu a te contar, que os nossos encontros casuais me enlouqueciam. Vivia uma semana inteira de frio, chuva, choro fácil e riso travado. Você me transtornava. Não sei o que me doía mais, a falta de você nos intermináveis dias ou lembrar da sua existência vez em quando. Volta e meia ouvia a música que nos canta e constatava que ela não ditava uma promessa, nem se fazia profética.
Você não soube e jamais saberá que pedi aos santos e orixás que te afastassem de mim.  Eu era puro desespero disfarçado de paz. Implorei que me permitissem seguir sem você. Que impedissem qualquer cruzamento em nossas vidas. Que nós nunca mais nos víssemos. Que eu nunca mais soubesse de você. Que não houvesse mais a gente. Parece loucura... E realmente é. Deve ser algum tipo de excesso de sobriedade. Consciência demais faz a gente surtar mesmo.
O que você sabe já, é que não funcionou. Nem os santos me pouparam de você. Poderia culpar o acaso ou o destino, mas o verdadeiro (ir)responsável por isso foi você, que continuou a me ligar com o passar dos anos. Mesmo quando não havia assunto. Mesmo quando não havia mais semelhanças. Mesmo quando parecia não haver nem mais discordâncias.
Agora, você sabe o mesmo que eu. Que estamos à mercê do destino e de nossos caminhos tortuosos. Quanto mais se anda, mais se desencontra, e mais se aproxima. Como pode? Matemática confusa a nossa. Vidas complicadas as nossas. Corações orgulhosos esses nossos.

sábado, 13 de outubro de 2012

Eu sei


Eu sei
Que é pra frente que se anda
Mas eu mais pareço um caranguejo
Tento sair, fugir, partir
Mas é só o passado que eu vejo.

Eu sei
Que para ser feliz, é preciso se abrir
Mas quanto mais forço o casulo,
Mais me enterro em dez, cem,
Mil bonecas russas em mim.

Eu sei
Que a fé de alguém já moveu montanhas,
Que quem acredita sempre alcança,
Mas comigo isso não funciona.

Eu sei
Que dor de amor dói no coração,
Mareja os olhos e inspira canção.
Mas em mim, não.
Machuca o estômago, fere como úlcera
Parece mais doença ao invés de paixão.

Eu sei
Que não gosto de poesia
E rima me irrita,
Mas é pra ela que eu corro quando vem o grito
E no sufoco,
Permito-me destrinchar frases mal formuladas
Em rimas pouco pensadas.

Eu sei
Que desejo um conto de fadas,
Uma história pra contar emocionada,
Uma música pra me sentir embalada
Mas na minha tragicomicidade,
A comédia rouba a cena de romance
E eu acabo sempre frustrada.

Acabou


               Acabou. Já não há tristeza, ansiedade ou vontade. Os olhares que outrora se encontravam, agora sequer se procuram. Já não há expectativa, nem suposições. Os codinomes e metáforas se perderam em meio às entrelinhas. Não, já não há beleza nem alguma poesia. Acabou até mesmo minha energia.
                O sentimento que me faz vigília imperante é a frustração. E, sinceramente, eu nem tenho tentado resistir. Não que eu curta a dor, como os poetas mal amados costumam insistir. Mas eu aprecio demais a reciprocidade para dar-me por satisfeita com as migalhas que me tens oferecido. Aprendi a ser assim. Depois de tanto amor não recebido, a gente aprende a perceber quem é fonte e quem secou. E você, sinto dizer, jamais jorrou amor.
                É justamente o que preciso: um laço infindo. Então, não adianta te procurar, me estreitar, nem tentar nos acertar... Não funcionará. Estamos fadados a não ser, é um fato. Posso tentar me inspirar no seu comodismo e chamá-lo de paciência. Bem, se você o chama de bom senso, chamo também o meu como quiser.
                Acabou. Se não há borboletas desnorteadas no estômago, perde o sentido. Se não me deixa tonta, cadê a graça? Se faz sofrer, já não tem porquê. Acabou o eu e você que nunca nos tornou nós. Não aconteceu porque não haveria de acontecer. E não, eu não vou mais tentar te - ou me - convencer de que ainda pode ser. Acabou.

Go Back.

       Vontade de chorar, gritar, espenear. De criticar e xingar, mesmo a quem não se pode culpar. De socar até a parede do quarto. De se ferir fisicamente, pra ver se a dor de dentro passa.
       Vontade de recorrer àquelas resoluções que nunca são resolutas, de não pensar, não ligar, não procurar. Quero não mais te querer, não precisar disfarçar, não fingir, não ter que sorrir. Não esbarrar nela, baixar os olhos, nem me culpar. Quero mesmo é te vomitar, te cuspir, te expurgar.
        Vontade de voltar à vida pré-você. De não te esquecer, por não te lembrar. Vontade de arrancar as páginas da agenda, como se você não tivesse havido. Vontade de recomeçar de onde me parei em você. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Liberdade (?)


                Liberdade sempre me pareceu uma palavra de conceito indefinível. Acho estranho como as pessoas vulgarizam o sentido dela, caracterizando como livres tantos diferentes tipos de prisões.
                Primeiro que conceituar liberdade por si só, já é uma ação fracassada. É o mesmo que mutilá-la, descaracterizá-la. Para ser livre, é preciso espaço, direção própria e caminho desconhecido. Não se pode ter amarras, limites ou preconceitos. Tudo isso me soa bastante contraditório, já que o ser é, em sua essência, dependente e atado a diversos estigmas.
                Dizer que se vive em liberdade é bonito  e até nos remete a uma ideia de democracia. Erroneamente. Nossa democracia tem tantos furos quanto essa liberdade que nos é licenciada. Somos controlados o tempo todo, principalmente de cima para baixo. Sim, a pseudoliberdade democrática brasileira funciona de ordem hierárquica. Contraditório, não?
                Voltando ao termo cru liberdade, penso em Clarice Lispector, que costumava se referir à mesma quase que isoladamente como um estado de espírito. Então, estar livre representaria uma condição social, enquanto ser livre, uma condição pessoal. Parece agora fazer algum sentido. Mas continua contrastando com o perfil de sociedade vigente. Seria possível sentir-se livre em meio à tantas regras e imposições? Honestamente, eu desacredito.
                Vejo a liberdade, como funcionamento mental, condição de existência humana. Acontece somente dentro da cabeça de cada um. Não somos capazes de executá-la de fato ou não a definimos corretamente. Ou vai ver, está tudo certo, e eu quero mais do que a liberdade pode ofertar. Talvez eu seja mais fiel à Clarice do que penso, quando ela diz: “Liberdade é pouco, o que eu desejo ainda não tem nome.” 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Falta sua.


Sinto sua falta como uma parte desprendida de mim. Perdida, mas não esquecida. Sinto sua ausência quase tanto quanto sua presença e costumo enlaçar-me em meus braços, na tentativa de resgatar algum qualquer resquício perdido seu.
Mas você não me deixou nada. Nem um olhar, um cheiro, gosto ou lembrança que seja viva. Não me deixou o beijo inesquecível, nem nossa música preferida. Não deixou nada a que eu agora pudesse me apegar para não morrer na sua falta.    
O que você deixou fui eu. Numa nova versão do que costuma ser. Mais romântica, reclusa e menos acessível. Você me deixou esse incessante blues no coração. Não faço outra coisa além de te esperar, e vez em sempre, bate a dúvida se devo tentar te procurar. Insistem em dizer-me que é preciso não esperar, para que você apareça. Mas eu não conseguiria. Te espero enquanto te escrevo, e sinto que a cada palavra essa nossa distância encurta. E te chamo. E te busco. E te amo, mesmo sem te conhecer. Mesmo sem saber como nos viver.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Dupla Face


              

                Às vezes é difícil perceber no que acreditar. Tem gente que tem mais fases do que a lua e se transforma mais do que borboleta. E aí, é inevitável se questionar: as pessoas mudam, ou apenas fingem?
                Tenho em mente que ninguém é uma coisa só, nem tem apenas uma versão. Todos somos contraditórios, mas no quesito opinião. Quando se trata do ser, não penso assim. Ou é ou não é. Pulsa ou não pulsa. Toca ou não toca. Me soa estranho quando alguém sofre ou me causa diversas variações.
                Desconfio de quem me faz mudar muitas vezes de visão. Hora companheira, fofa, doce, sentimental. Hora calculista, observadora, analítica, antipática. Se pararmos pra refletir, matamos a charada. Quem tem falsidade consegue se passar por ingênuo, mas quem tem pureza não se passa por esperto. Pronto. Face descoberta.



quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Aparar as Pontas


Esse desejo de mudar a vida, de crescer, fazer, acontecer e principalmente, ser, é também um desejo de morte. Tenho vivido um desejo forte de matar tudo o que atrapalha essa minha caminhada. Morrer um pouco pra voltar ainda mais viva, é necessário, eu acho.

Vontade de matar essa preguiça, essa preocupação com desimportâncias, esse querer inerte. Vontade de assassinar (com requintes de crueldade até) as roupas que não servem mais, os sapatos que machucam e as pessoas que não acrescentam... Antes que elas me matem! Vontade de atirar pela janela tudo que me atrasa, inclusive o relógio. Vontade de resgatar o tempo que não perdi, para abrilhantar o que ainda há por vir.

Minha vontade, na verdade, é apenas de viver. E viver bem. Se para isso, for preciso matar ou morrer um pouco, assim farei. Dizem que quando cortamos as pontas do cabelo, ele cresce mais rápido e mais bonito. Com gente também funciona assim. É necessário “aparar” o que não presta, para seguir. E seguir melhor. Seguir com força, brilho, e muito mais vida.





segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Meu Amor


   

      Tenho levado meus dias no automático... Não estou sabendo viver de outra maneira. Sinto falta intermitentemente do meu amor.  Tudo dele que há em mim, me dói de uma maneira absurda. Corrói o que tive de fé e oculta o que tenho de amor.
         O cheiro do meu amor não é doce, forte, nem suave. É só dele. É algo inexplicável. Me parece chocolate, terra molhada, maresia, bolo saindo do forno, café e chiclete de hortelã. Aquilo que eu chamaria de combinação perfeita. A minha melhor combinação.
        O toque do meu amor também é só dele. Em algumas vezes, delicado e cuidadoso. Parece temer que eu quebre. Sinto-me sua grande preciosidade. Ele me olha como só existíssemos nós no seu mundo, e me beija como se cada um fosse o último. Por outras vezes, o olhar é de fome, o beijo devorador, a pegada de bicho e parece mesmo é que a intenção é me quebrar. Não sei dizer qual dos momentos prefiro... Meu amor sabe dosá-los como ninguém. Acredite, você também iria se apaixonar.
        Meu amor é o que tenho de mais maravilhoso. É verdadeiro, íntegro, inteligente, divertido, visceral e tem uma relação com seu violão que só não é mais intensa do que a nossa. Ele tem uma voz que me arrepia, um olhar que me toca e a gargalhada mais gostosa de se sentir. 
        Reconheceria o meu amor mesmo virado ao lado avesso e sem fundo musical. O perceberia no olhar, na pele e no coração. Acho que quando a gente encontra o amor, não sente dúvidas. Simplesmente sabe. Alguma coisa deve palpitar, avisando.
        Por isso, ando com atenção. Se o meu amor passar, o apito soa e eu o seguro depressa. Pode ser que ele passe do outro lado da rua. Pode ser que passe por entre meus amigos. Pode ser que passe por meu dia a dia. Se passar por mim, fica. Não passa mais por outros olhares. 

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Medo


              A vida não tem andado fácil. Nunca fora, eu sei, mas esses últimos dias têm sido ainda mais complicados. Tenho sentido tanto medo... Medo de morrer e de viver; medo de rir à toa e de não ver graça em nada; medo ser sensível demais e de endurecer; medo de acreditar e de desconfiar; medo de me entregar e de travar.
                Não pense que está sendo fácil escrever sobre isso. Estou mexendo no que há de menos louvável em mim, que é esse medo constante das inconstâncias da vida. E, ao contrário do que pensam os não- escritores, destrinchar dores em palavras não alivia. Abre ainda mais a ferida.
                A realidade parece enlear-se cada vez mais com a vontade, aumentando minha insegurança. No fim das contas, já não sei distinguir uma da outra. Não sei apontar o que vejo, o que desejo ou o que sinto. Tudo se mistura numa maçaroca indefinível de achismos e impressões.
                Se alguém me pergunta como foi determinada situação, já descrevo com a cautela e loucura de quem analisa palavra por palavra, para não ser mal compreendida. Não satisfeita, repito as partes relevantes reiterando não ter certeza daquilo que presenciei. Aliás, certeza é uma palavra extinta do meu vocabulário. Sinto um medo quase mortal de não ser fiel aos fatos.
                Deve mesmo ser algum tipo de piração. Quem se reconhece como são provavelmente tem alguma consciência do que viu e do que diz. Eu não. Acho que tudo pode não passar de um mero erro de interpretação. É de enlouquecer, e acho realmente que, aos poucos, despeço- me da pouca sanidade que tive.
                Tento arduamente me ater aos fatos vivos. Óbvios e imutáveis. Mas o que se caracteriza assim? Sempre haverá entrelinhas, indiretas, olhares furtivos, sorrisos disfarçados, palavras não ditas... Sempre. As relações por si só nunca são sós.
                E, por mais que eu me esforce, não consigo ficar em paz. Tem também sempre um quê de “as-coisas-não-estão-certas” que eu não sei perceber, quanto mais resolver. Tem sempre um bolo na garganta, lágrimas nos olhos e coração disparado. Tem sempre uma dúvida entre o que se sabe e o que se sente. E tem sempre o medo de estar deturpando a vida.      





segunda-feira, 30 de julho de 2012

SER


            Eu sei é que às vezes dói ser o que a gente é de verdade. Devia facilitar, eu acho. Mas dói. E eu também sei que grande parte dessa gente que circula solta pelas ruas não é o que é. É o que quer ser, o que pensa que deveria ser, ou qualquer outra coisa. Guarda o que é lá no fundo e finge sequer conhecer o que era pra ser. Joga poeira no que é e traz à tona a imagem que quer.
            Essa gente toda deve saber a dificuldade do que é ser o que se é. Não deve ter peito e alma abertos para enfrentar- se a si próprio. Exige coragem, força e doação. Talvez exija alguma inocência nesse conjunto. Ou ainda falta de inteligência. Porque, apesar de tão admirados os que são o que são, não são copiados, nem servem de inspiração.
            Por isso, digo para essa minha gente que é o que é: cuidem-se. Assumir-se diante do mundo, é pôr o coração nas mãos e oferecer praquela enorme gente que finge ser o que não é. É despir a alma e entregar-se ao desconhecido. Por vezes, machuca que sangra e corrói. Mas há de ter alguma recompensa. Há de sentir-se um amor inenarrável. Há de se viver, no sentido mais literal da palavra. Há de se transbordar a felicidade que não alcança quem se esconde por detrás daquilo que não é.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Tanto de nada


Acredite, ele ainda pensa em você todos os dias. E te sente. E te sofre. Te vive e revive a cada minuto. Mesmo não te procurando. Mesmo fingindo estar tudo bem. Você não é passado, é presente. De grego, presente ingrato, mas presente. Queria ele poder voltar no tempo e te devolver... Ah! Quem o dera as coisas fossem tão simples assim.

É difícil de acreditar, quando más línguas já foram te informar sobre como ele está. O registraram em tantas noites, com tantas mulheres, distribuindo tantos sorrisos. Mas homens são assim mesmo, ele te diria. Homem que é homem não curte sofrimento gratuito. Homem de verdade não fica em casa, chorando pela mulher que não tem. Homem vai para a rua, conquistar novas. É esse o processo, você devia saber.

Mas não se engane, menina. Esses sorrisos são sofregamente estampados. Imagine ter que forçar 28 músculos concomitantemente durante uma noite inteira. É esse o preço que ele paga por desfilar a felicidade que não tem. Além de ter que se fazer interessante e interessado pelas mulheres que tão pouco o interessam. Ele não deixa de te viver nem por um segundo, apenas cumpre a fachada social que precisa aparentar, por ser homem.

Você jamais ouviria a respeito de sua reclusão, tristeza profunda, nem amor sentido. Ele nunca se permitiria ficar em casa, ouvindo música e lembrando vocês. E você sabe disso. Aliás, foi por esta faceta pela qual se apaixonou. Viu nele masculinidade, virilidade, desprendimento, e se encantou.

Querendo te acalentar, acho que acabei por piorar tudo. Dor doída na gente, dói. Mas dor doída no outro, fere a alma. Afinal, o que incomoda mais? Pensar que ele não te sente, pois já te superou, ou que te vive diariamente? Porque é isso, acredite. Ele te sente. E te vive. E te sofre. Mas te mente.



quinta-feira, 12 de julho de 2012

Expurgo


Não irei repetir isso. Foi a última noite de erro consecutivo. Não mais te procurarei, nem corresponderei. A brincadeira disfarçada de ingênua, fadada ao desastre, registra hoje seu game over. Prematuro, mas inadiável, o fim do que nunca começamos pisca num neon ofuscante de letras garrafais.

Agora com alguma clareza, percebo que você mesmo talvez o tenha posto à minha vista. Sempre atiçando, mas sempre se esquivando, numa dança patética e fora do meu ritmo. Mostrava que me queria, e fugia quando podia. Só eu, iludida, para ainda sequer pensar em te procurar.

E era o que eu fazia. Corria para a praça dos que cantam, passava pelos bares dos tantos que dançam, cruzava sons de samba, funk, jongo, MPB... E nada de você. Via rostos conhecidos e queridos por você, camisas suas, barulhos seus, bebidas suas, mulheres suas, lugares seus, mas me faltava o seu olhar. Aquele que me desnuda. Aquele que me arrepia. Aquele que me intimida. Aquele pelo qual venho buscando nas noites há dias. Aquele que se perdeu de mim e fez com que eu me perdesse também.

Fiz uma ideia bem diferente de você. Soube de suas muitas mulheres e de seus poucos amores, então, te projetei uma liberdade emocional que não se mostrou real. De fato, você não está algemado, mas encontra-se mais enlaçado do que percebe. Ou, ao menos, do que se permite transparecer.

Por falta de força, embora não de vontade, estou te expurgando de mim. Só te peço que deixe de me perturbar. Chega de Cartola, Bethânia e Chico, pois eles não poderiam ser testemunhas de um encontro que nunca esteve às vésperas de acontecer. Chega de um “ah, se eu vou” que nunca vai. Não me faça salivar, se não poderei degustar, não me olhe faminto, se não haverá banquete. Eu não aguento. Mentiras sinceras até podem me interessar, mas raspas e restos, não. Eu dispenso.




quinta-feira, 5 de julho de 2012

Talvez seja isso.


Às vezes, vejo- te como ilusão. Talvez porque foges de mim ou quando apareces sem fim, sei lá. Só sei que me embaralhas como jamais pude imaginar. Vejo- te ali e ao me certificar, já não estás mais. És difícil de acompanhar.

Penso que te projeto em meu olhar. Talvez tu estejas dormindo ao invés de passear. Pois não vejo propósito, apenas observo-te caminhar tão próximo... Quase ao meu alcance... E, ao piscar, a realidade renasce e o desejo se desconstroi. Não estais lá.

Talvez jamais estivestes, ou ainda talvez meu frágil ser tenha registrado- te uma única vez e agora reflete, num querer eloquente, teu andar preciso e misterioso projetado de minha mente. Talvez seja qualquer um desimportante, mas meu querer transforme-o em ti. Ou talvez sejas tu mesmo, me escapando com tamanha facilidade, que sequer parece existir.




quinta-feira, 28 de junho de 2012

Clara




Era ela Clara. Clara de pele. De olhar distante, beleza opaca, sorriso apagado e verdade duvidosa, era ela misteriosa. Sem qualquer clareza em sua essência, era Clara condenada a fingir vida advinda de sua alma abortada.

Funcionava tal qual um espelho, vivia por imagem invertida. Era o exato reflexo daquilo que não era. Esbanjando doçura e assombrando por tamanha delicadeza, era Clara pura mentira. Forçava- se diariamente a amar, a detestar, a preferir. Não conseguia. Sem qualquer sensibilidade, era ela desprovida de vida.

Tinha ela uma falta de fé inabalável. Pois só tem fé quem acredita. Só acredita quem sente. E sentir... Sentir não era coisa de Clara. Era ela fria, dura e inquebrável. De simplicidade comovente e transparência contestável, era Clara outra Clara, que não ela.

Passava tanto tempo fingindo, que quando podia apenas ser, dormia. Clara era exausta por não se bastar por si. Mas pior do que não sentir seria explicar o não- sentimento. Num mundo de gente que transborda uma felicidade inexistente e que se autocomisera pela tristeza que não sente, não haveria de ser Clara a única diferente.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Tardia


Mesmo adulta, ela às vezes sente-se carente, órfã até. Procura o colo da mãe, o conforto da casa dos pais, o cheiro de lar. Corre atrás do que a fez menina, e se esquece de que já é mulher.
Ela não sabe se por insegurança ou por carência, mas tem sido muito difícil caminhar por suas próprias pernas. Talvez elas ainda sejam um tanto curtas... Ou talvez seja o caminho demasiado longo. O fato é que tem sido exaustivo, conflituoso e doloroso seguir por novas trilhas.
Vez em sempre, o coração aperta e ela corre de volta, como uma criança mimada. Regride tudo o que havia progredido, mas não se arrepende, porque continuar por ali é bem melhor. Recarrega-se e volta a andar. Os pais, aliás, têm essa mania: cismam que os filhos devem ir. Mas para que isso? Tudo o que ela quer é ficar.
Ela segue em passos de formiga e sem vontade. Sente mais medo do que jamais pensara sentir. Medo da estrada, das bifurcações, das companhias, da solidão, do destino final. Cada passo seu, é uma grande vitória, acredite. Significa que por um segundo, foi forte o suficiente para continuar.
Mas aí, vem a chuva. Não aquela chuva que aprecia- se quando vista da janela de casa. A chuva do lado de fora, é sentida na pele. Os fortes pingos gelados, unidos ao vento frio, desencorajam- na a seguir, então, ela para. Congela, enquanto a chuva desaba sem trégua.
O pânico cresce, e a mulher esquece que é mulher, pensa que é menina e volta correndo para casa dos pais. Quer o colo da mãe, o urso da infância e a cama com cheiro de lar. Volta para aquilo que se propôs deixar para trás. Depois ela amadurece, amanhã, quem sabe. Mas agora não. Está escuro lá fora... Espere a chuva passar.


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Primeiro Conto


O relógio registrava 18h, mas estava tarde. Ela sabia disso. Apesar da consciência, aproveitou o momento inoportuno. Embriagada pelo excesso de lucidez, tomou em mãos seu celular e enviou a mensagem dizendo o que há tempos queria. “Penso em você e sinto sua falta todos os dias.”
As horas que se seguiram pareceram, na verdade, dias. Mas, enfim, a resposta chegou. Não como ela almejara, mas chegou. “Também penso e torço por você. Espero que esteja bem.” Uma corrente gélida de ar percorreu por todo seu corpo. Teve o impulso de responder no mesmo instante que não, não estava bem, precisava dele por perto e que torcer seria em vão. A felicidade dela estaria condenada enquanto ele se recusasse a vivê-la. Mas não o fez.
Os dias que se seguiram pareceram, na verdade, longas noites. Era notório que muita coisa havia mudado. Sua ferida já não doía. Aliás, estava incapacitada de sentir qualquer coisa que fosse. Tudo parecia normal. Quem a percebesse de fora, jamais calcularia sua inquietude emocional.
Aos poucos, ela foi se transformando naquilo que não imaginara ser. Um poço profundo de silêncios e amarguras. Uma beleza apagada, morta. Trancou- se em casa, pensando estar se respeitando ao invés de se escondendo. Sem cuidado, sem higiene, sem preocupação, sem lembranças... Sem alguma vida.
A campainha tocou e ela atendeu sem vontade nenhuma. Uma velha amiga sorria à porta, e entrou. Criticou a desordem, questionou sua aparência, reclamou do mau cheiro. Aconselhou, brigou, abraçou. Fez todas aquelas coisas que os amigos fazem. Mas dentro dela, nada mudou.
Saíram para a rua. Dizia que ela precisava ver a luz do dia. Caminharam, tomaram sorvete, riram e fingiram estar tudo bem. Vez ou outra, a amiga voltava a abraçá-la. Ela não gostava, mas deixava. E então, continuavam a rir e fingir que tudo estava bem.
Percebeu, com isso, que podia voltar a viver ainda em morte. Se fingisse direitinho, pensou, ninguém perceberia sua ausência. Voltou ao trabalho, às saídas, às conversas fúteis, aos sorrisos forçados, aos encontros indesejados. Namorou pessoas de diversas cores, profissões, lugares e sexos...  Mas nunca mais amou.
Porque amar de verdade só se ama uma vez. Quando se ama, afinal, é tão raro. Aquele sentimento não volta, mesmo porque ele não se vai. Fica ali, quietinho, no seu lugar indevido. Palpita, dói, às vezes até grita, mas sossega outra vez. 
Agora ela vê que isso que ela vive, mas se recusa a chamar de vida, é o que a maioria das pessoas sempre teve. E, ao invés de transbordar autopiedade, ela tem pena é dos outros. Pois por mais que tenha doído, por mais que tenha acabado, por mais que a tenha matado... O amor que a destruiu é a prova de que ela algum dia viveu.





quinta-feira, 24 de maio de 2012

Condenada pela Arte


        Ah, que saudade! Que vontade de me perder em mim... E me achar em outras personalidades. Que vazio enorme sem as tantas pessoas que me habitam. Que cansaço sente o meu corpo por somente carregar a mim. Ser eu mesma dá trabalho.
        Sei é que me dói a saudade do pé no chão, da voz projetada e dos movimentos amplos. Não digo que sinto falta só dos palcos, porque é muito mais do que isso. Teatro não é feito de tábuas de madeira e holofotes.
       Teatro é feito de fé e amor. É feito de um equilíbrio que a gente nem sabe de onde vem. Teatro se faz com a voz, com os olhos e com o coração. É um grande circo de emoções, onde histórias inventadas proporcionam sentimentos reais.
       Engana- se quem pensa no teatro como mentira. Lá, tudo que se passa, é pura verdade. Verdade que cega, expande e transcende os limites da realidade. Choro, riso, frio na barriga e borboletas no estômago... Tudo de verdade.
        Essa saudade desmedida de viver o teatro, muitas vezes me transborda os olhos e aperta o coração. Mas talvez seja o certo. Talvez eu não seja boa o suficiente nisso. Talvez eu não seja talentosa. Talvez esteja tarde demais. Quando a gente racionaliza, atinge o ceticismo e se perde da magia que é fazer arte...
       Minha saudade é, na verdade, de mim. Tenho saudade daquela pessoa que fui um dia. O teatro me completa como nada, nem ninguém jamais fará. E viver pela metade não é vida que se viva... É prisão que se condena.




domingo, 13 de maio de 2012

Faxina




Então é isso. Acabou. Vivemos o que tínhamos para viver, e você passou. Não me olhe assim, com esse quê de culpa, nem pena. Estou bem. Sinto- me até mais leve, juro. Você me pesava as costas, às vezes. Mas agora tudo mudou. Escolhemos. Definimos. Desfizemo- nos.
Vou levantar, fazer uma faxina bem feita na alma e reaprender a sorrir. Expurgar tudo o que um dia me fez infeliz. Atirar pela janela dos olhos, em forma de cascata de lágrimas, cada resquício de você. Retirar a velha poeira escondida embaixo do tapete sentimental. Limpar cautelosamente cada delicadeza em mim que ameaçava romper.
Depois de bem cuidada, minha morada estará aberta a novas visitas. E eu estarei enfim disposta ao novo, porque andava demasiado ocupada em esvaziar- me de você. Limpei, encerei, serenei. E que venha o futuro, porque o passado eu já abandonei.

(L)aço


Sinto que, aos poucos, aos muitos, aos trancos... Vou- me. Percebo que cada vez mais me afundo nesse poço fundo e frio dos desalmados. Pior do que sofrer, é morrer em vida, assim como estou me permitindo.
      Esse laço que nos uniu jurando eternidade, mais parece uma algema. Não consigo me libertar e ainda sou arrastada por você. Eu fico aqui, presa, pesada e parada, enquanto você consegue - de alguma forma - se movimentar. Segue seu rumo, levando a minha parte mais bonita... Aquela que ainda pulsa, implorando por vida. Que azar o meu... Que destino inesgotavelmente atrelado o nosso.
      Para ser sincera, estou me descobrindo masoquista. Não, não me orgulho disso, mas é tão torturante quanto deliciosa essa nossa proximidade. Tão proveitosa quanto perigosa... E tão desejada quanto dolorosa. Você me dói mais do que qualquer ferida física. Deixou cicatrizes profundas com suas palavras superficiais e lembranças que, de tão felizes, me entristecem.
      E o pior de tudo, admito, é isso. Tornou- me contraditória e diminuiu- me. Sou, agora, metade incompreensível de uma coisa- qualquer- sem- vida. Eu, logo eu... Logo eu que era justamente o oposto. Era inteiramente sensatez, transformei-me numa confusa pequenez.



segunda-feira, 7 de maio de 2012

Chuva...


Não vejo beleza na tristeza, no choro desmedido, na desmotivação, na falta de sono – nem no excesso dele, na fome desesperada – nem da ausência dela. Não sei apreciar dias de chuva com pessoas cinzas caminhando pelas ruas vazias de sorrisos.
Não agradeço por todas as dificuldades que enfrentei, como dizem por aí. Seja por imaturidade, preguiça, fraqueza ou sei lá o que... Confesso que preferia não tê-las encontrado. Poderia ser feliz mesmo sem ter sido infeliz. Nunca conheci alguém que não soubesse sorrir por não ter chorado.
Mas reconheço que é complicado fugir de tudo... Quando esconde-se muito da chuva, torna- se difícil perceber quando as nuvens se distraem e o sol sai.





CFA





"Andei amando loucamente, como há muito tempo não acontecia. De repente a coisa começou a desacontecer. Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais, tive insônia e excesso de sono, falta de apetite e apetite em excesso, vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro). Agora está passando: um band-aid no coração, um sorriso nos lábios – e tudo bem. Ou: que se há de fazer."

CFA





"Só agora eu sinto que as minhas asas eram maiores que as dele, e que ele se contentava com os ares baixo; eu queria grandes espaços, amplitudes azuis onde meus olhos pudessem se perder e meu corpo pudesse se espojar sem medo nenhum. 
Queria e quero -ainda. 
Voar junto com alguém, não sozinha.” 

sábado, 5 de maio de 2012

Anti- Romantizante



Pare de romantizar tudo. Pare de procurar alguém para lhe fazer feliz. Pare de esperar que alguém te enxergue como achas que merece. Só o que encontrarás nessa busca infundada, é decepção, quem te acompanhará serão as lágrimas e fatalmente, a solidão te acolherá ao fim da estrada.
Sei que a verdade machuca mais do que o amor ou a própria tristeza em si, mas tente aceitar. Não se doe tanto, para não se doer depois. Cuide- se. Respeite-se. Não se permita magoar. Teu coração é tua oração, guarde-o em fé.

            Siga teu caminho reto, almejando apenas o concreto. O abstrato não surge para todos, e tu és apenas tua própria exceção, não de toda humanidade. Projete, escolha, trabalhe, mas não sonhe. Construa uma realidade e viva nela. Podes não ser feliz como esperas, mas não serás castigada, como tens sido. Chegastes até aqui sozinha. És por si só. Não procure companhia.




segunda-feira, 30 de abril de 2012

Clichê


           


              Talvez o problema nem se chame saudade, Seria mais cabível que atendesse por tristeza mesmo. Porque o pior não é a sua ausência por si. O que me dói é a falta de esperança em te ter de novo. Eu, que ao seu lado, senti-me diferentemente especial, agora sinto- me comumente descartável... Minha sina são os clichês de corações partidos e amores perdidos.
                Na época, racionalizei, e pensei não haver dificuldade em seguir distante de você. Pensei no nosso encontro apenas como um capítulo em meio aos tantos da vida. E, de fato, foi bastante fácil não lembrar você. Ao menos nos três primeiros dias. Mas este quarto dia de abstinência sua... Tem me doído um tanto. O “só por hoje não pensarei em você” não é mais eficaz.
                Não me recordo de sua fisionomia, tampouco da sua voz, gosto ou cheiro. Sério. Seu cheiro também não me palpita mais. Acho que ele se foi naquele nosso último dia ao telefone. Deve ter partido no momento em que você disse precisar de um tempo. Um tempo sem mim. Um tempo sem nós.
                Por ora, evito qualquer lugar que seja particularidade sua. A vontade desesperada de te encontrar casualmente como de outra vez, já não vigora. Tenho preferido evitar lugares a que você vai, bem como aos que fomos.
                Não cometa o erro de precipitar-se em acreditar que permaneço a mesma. Engano seu. Minha mudança pode ser acompanhada a olhos nus. Os milhares de carros pretos nas ruas, já não captam minha atenção. Parei de criar motivos diversos e inócuos para cruzar sua casa. Não analiso mais as antigas trocas de carinhos na tentativa de perceber quando nos perdemos.
                Hoje bateu saudade. Sabe, a falta de você enfim me incomoda. Cheguei a pensar que não passaria por isso desta vez. Enganei-me. Você foi, deixando-me do lado avesso e eu ainda não descobri como restabelecer-me por minha conta.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Fragilidade

Ela perdeu o equilíbrio por você. Não se sente nem um pouco culpado? Eu sei que nada disso foi pensado, mas olhe só para ela. Tão frágil... Deixou-a tonta, derretida e desnorteada. Acabou pegando o caminho errado da volta. Você sabe o quão firme ela é e que nem pensa em admitir sua fraqueza, mas olhe só para ela... Tão frágil.
A falta que ela sente de você é absurda. Absurda em intensidade e na falta de nexo. Simplesmente não faz sentido. Por que sentir sua falta? Falta do que, aliás? Ela responde com lágrimas nos olhos, que a sua ausência dói. Queria ter sido pra você, alguém que não conseguiu ser. E queria ter de você o que ninguém mais teve. Sim, eu sei o que irá dizer: vida que segue, não há sofrimento que não se esvaia. A dor de agora é passageira, como as outras foram... Mas olhe só para ela. Tão frágil.
 Eu precisava vir aqui, te dizer, te mostrar quão doída ela está. Neste momento, procura por seus cacos espalhados na estrada e tenta encontrar o caminho de casa. Não quer mais aventurar-se por terras que lhe parecem estranhas. Deseja resgatar a monotonia e segurança do conhecido. Acabou por descobrir as vantagens da mesmice. Nem se quisesse teria condições de continuar a viver por você, olhe só para ela... Tão frágil. 


segunda-feira, 9 de abril de 2012

Só o desabafo de uma mulher Só.

Por que ser dói tanto? Quem tem verdade deveria ser vangloriado, não castigado. Por que se abrir machuca? Por que acreditar fere?
Podem falar da paz que há na solidão... Podem citar o ditado “antes só do que má acompanhada”... Podem dizer que não preciso de ninguém... Eu preciso e assumo. Falem o que quiser, eu sei o que sinto, como sinto e a dor que sinto.
Não vejo graça em estar sozinha. Não agüento mais olhar o celular para perceber a ausência da mensagem que nunca irá chegar. Não suporto mais vigiar redes sociais de quem sequer se lembra de mim. Não posso mais viver assim. Não vou me permitir deixar de viver, assim.


domingo, 25 de março de 2012

Sem título

O lema positivista que inspirou a inscrição – “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim” – terminou resumido na expressão “ordem e progresso”.





Pessoas mortas,
Ideologias vivas!
Pensando em mudar o mundo 
Num segundo,
O amor órfão
procurou nas ruas sujas
Um poeta pra lhe abrigar.

Em verdade, 
Já era tarde,
e o poeta pediu tempo
Para lutar.

Entre ideias,intenções, corrrupções
a palavra cedeu seu lugar.
Ordem, progresso,
sem amor!
já não era necessário pregar.

No branco da bandeira,
O espaço era curto,
O amor não pode entrar. "


Mariah de Oliveira

sábado, 24 de março de 2012

Dor Alheia

       Existe dor pior do que assistir a quem se ama se doer? Pior que isso. Saber que pode até acalentar, mas não curar. Ver aquela pessoa querida se culpar pelo tanto que não teve culpa. E se castigar por todos os acertos que julgou errados. 
      Gente tem mania disso. De procurar culpados, como se tudo fosse reflexo de um crime. De se castigar, como se merecesse sofrer por não ter sabido escolher. E de se recolher, como se a vida fosse passível de repetição.
      Aprenda. As coisas não serão melhores só porque você assumiu a responsabilidade por elas. Privar-se de viver aquilo que mais deseja, não consertará os erros que cometeu anteriormente. E fazer-se infeliz não te tornará merecedor da tal felicidade sublime... Significa apenas um auto- flagelo desnecessário.




O Último Adeus

" Dizer adeus é uma das piores coisas do mundo. Mas existem momentos em que, embora não se queira dar adeus, não se tem escolha.



     Muitas vezes, a gente aposta tanto numa viagem, tira o passaporte, recebe o visto, faz tantos planos… Prepara as malas, separa as roupas, os sapatos… Separa a máquina fotográfica, se arruma, passa perfume, dá o melhor de si. Tudo por acreditar que a viagem será a melhor da sua vida, afinal, você esperou tanto por isso. Principalmente por estar ao lado de alguém que tenha os mesmo objetivos. Então, eis que chega o dia da viagem. 
Embarcamos os dois no barco, que deixou a costa numa tarde de primavera, onde, o pôr-do-sol mostrou-se como a maior maravilha da Terra. E fomos viajando, juntos, pelo oceano. Vezes tiveram em que surgiram nuvens negras no céu. Em outras, era o mar quem esteve revolto. Mas quando a tempestade realmente chegou, você não quis mais navegar comigo. Não aguentou a fúria das ondas e abandonou o navio. Lançou-se ao mar e deixou-me sozinha, afundando. E por mais que eu tentasse retirar toda a água que estava a engolir nosso barco, não era suficiente. Foi quando vi que além de me deixar sozinha, você ainda deixou toda a carga das lembranças e da saudade a bordo, o que estava ajudando, cada vez mais, a ir pro fundo. Pude ver, ao horizonte, que você salvara-se, ao alcançar um outro barco que estava passando. Só me restaram então duas opções: permanecer e afundar, ou, pular e tentar me salvar. Será o que farei: pularei ao mar, embora com toda a dor mas com esperança de chegar na costa. E mesmo que doa me despedir, é preciso fazê-lo. Adeus ao barco, aos planos, à viagem. Adeus ao que isso representava. Que a sua salvação tenha sido o melhor pra você, e que em seu novo barco, você tenha motivos para ficar. Que você encontre o que tanto procura. Quanto a mim, nunca mais nomearei marinheiro a quem não quiser navegar. "








Letícia Barros

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Insistir em Sentir



Eis que o fim chegou.
O palpitar cessou, a angústia e a inquietação também.
Já não há peso nas costas, nem lágrimas nos olhos
Tudo está sereno.
Ela aprecia a turbulência em vida e sempre havia buscado por enredos bem delineados
Mas agora acabou.
É chegado o momento do cansaço, das frustrações
E do cansaço das frustrações.
É chegado o momento de parar
Tem uma hora em que é natural desistir de atravessar a onda, e preferir seguir o balanço do mar.
Deixar-se levar é um modo de viver
Talvez não tão excitante... Talvez não tão bem vivenciado.
Mas não dá para gastar energia sempre. Esgota-se.
Sentir demais cansa.
Insistir demais também cansa.
E insistir em sentir é tolice.