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“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." (Clarice Lispector)

terça-feira, 2 de julho de 2013

Ontem.

Sinto que não sou a mesma. Parte de mim ficou nas mãos de ontem. Perdeu-se. Perdi-me. Não sei se ainda posso me resgatar, mas a ideia de remendar-me, é repudiante. Preciso de mim por inteiro. Essa parte que se foi, fatalmente, logo me faltará.

Faço uso de uma licença hipotética para chorar palavras desalinhadas numa prosa poética repetitiva, cansativa e com um quê de patética. Corro o risco de ser chata, mas ontem mostrou-me que os chatos podem ter vez. Chatos também têm seu momento de glória, ao contrário dos despedaçados. Ontem desafiou Cazuza e mostrou a céu aberto, para quem quisesse ver: há sim perdão para os chatos.

Ontem não foi cruel só com Cazuza, foi comigo também. Ficou com uma parte minha, que eu nem reconheço qual ainda. Mas já me faz falta. Pior é que creio ter sido por pura impureza, só por maldade, quis me atingir. Logo eu, que o recebi de braços abertos, quando ainda era amanhã... Acho que foi isso. Ansiei por ontem, criei alguma expectativa, e ele sentiu-se pressionado. Pronto, mistério desvendado.

Quis que ele fosse um hoje especial, como tantos outros foram, e se orgulharam de ser. Mas já que, por força das circunstâncias, não pôde me encantar, resolveu me mutilar só para marcar. Ah, ontem... A gente podia ter funcionado. Seríamos uma grande parceria, pena que optamos por sermos adversários. Podíamos ser gozo e orgasmo, mas acabamos em lágrimas.


Hoje, coitado, já chegou em desvantagem. Não tem tudo de mim, como ontem teve. Ainda estou em fragmentos, procurando descobrir qual parte de mim ontem reteve. Os próximos hojes, aliás, não me conhecerão como ontem conheceu. Acho que, no fim, ontem obteve seu sucesso. Marcou- me, assim como desejara, e ainda mais do que esperara.

domingo, 28 de abril de 2013

Amor.


     Às vezes, tenho a impressão de que não caibo em mim. Essa falsa sensação de amplidão se dá pelo amor que não sabemos se temos, criamos, usamos ou libertamos. É sentimento demais pra pouca matéria. E sentimento forte, ardente, latente.

     É um desses amores ensandecidos que de tanto amar, fica doentio. Pulsa-me o órgão amador, corre-me o sangue quente e lateja-me o impulso de repetir incansavelmente um: “eu te amo!” gritado, quase que esbravejado, aos seres amados.

     Amor que ama sem medidas  parece até agressivo, à primeira vista. Mas é tão doce e suave quando compartilhado... Quanto o mais profundo dos amadores pode ser amado. Assusta aos desavisados, pois serve-se de uma força desconhecida, mesmo aos já íntimos ao amor. Reúne toda a estrutura que os tolos juram ter, bagunça e desedifica.

     Amor desenfreado é mais eficaz do que qualquer crença ou fé. Torna o elefante capaz de voar, a tartaruga capaz de correr e a águia capaz de nadar. Faz do cientista, um religioso; do filósofo, um calculista; e do engenheiro, um poeta. Realiza milagres a olhos nus e crus. Transforma demônios em santos e ateus no próprio Deus. 

    Amor, quando é amor de doer, não preenche, transborda. Amador, que nasceu para amar, não ama, abençoa. E amado, quando sabe o ser, não só recebe, mas também reflete.

Caminhos.


            Amor, eu sei que os caminhos são muitos, as andanças são longas e os perigos, variados. Eu sei que se perder é mais fácil do que se encontrar. Que seguir é mais fácil do que desviar. Mas, acredite, vez ou outra, é necessário dificultar.
     Nem sempre haverá um muro ou uma pedra que te impulsione a escolher outra via, mas te peço, meu amor, para pensar diante de toda e qualquer bifurcação. A rua pode ser menos iluminada, ter chão de terra, parecer mal frequentada... E ainda assim, resultar no melhor destino. Atalhos, como se sabe, são falhos. Lanternas podem consumir as pilhas por completo. A precaução que se leva, por vezes, pode ser pega desprevenida.
     Não preocupe-se por antecipação. Vá vivendo, contornando, e se cuidando. Leve consigo somente o que puder carregar, apenas tudo aquilo que descreve tua essência. O que se excede, se te pesa ou te sobra, deixe pelo caminho. O que não te serve pode completar bagagens alheias, então, não guarde por insistência.
     Quanto à mim, estarei neste ou em qualquer outro novo “aqui”, aguardando o seu retorno. De casa, braços e coração abertos. Entendo que, quando muito se ganha, é inevitável perder-se. E, caso um dia, você seja muito mais do que eu possa suportar, rogo para que volte para me buscar. Não me deixe pelo caminho, meu amor, junto às tralhas que não pôde carregar. Peço que volte, retire-me dos abismos de mim e refaça a caminhada, me ensinando também a caminhar.