Eu sei é que às vezes dói ser o que
a gente é de verdade. Devia facilitar, eu acho. Mas dói. E eu também sei que
grande parte dessa gente que circula solta pelas ruas não é o que é. É o que
quer ser, o que pensa que deveria ser, ou qualquer outra coisa. Guarda o que é
lá no fundo e finge sequer conhecer o que era pra ser. Joga poeira no que é e
traz à tona a imagem que quer.
Essa gente toda deve saber a
dificuldade do que é ser o que se é. Não deve ter peito e alma abertos para
enfrentar- se a si próprio. Exige coragem, força e doação. Talvez exija alguma
inocência nesse conjunto. Ou ainda falta de inteligência. Porque, apesar de tão
admirados os que são o que são, não são copiados, nem servem de inspiração.
Por isso, digo para essa minha gente
que é o que é: cuidem-se. Assumir-se diante do mundo, é pôr o coração nas mãos
e oferecer praquela enorme gente que finge ser o que não é. É despir a alma e
entregar-se ao desconhecido. Por vezes, machuca que sangra e corrói. Mas há de
ter alguma recompensa. Há de sentir-se um amor inenarrável. Há de se viver, no
sentido mais literal da palavra. Há de se transbordar a felicidade que não
alcança quem se esconde por detrás daquilo que não é.