Quem sou eu

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“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." (Clarice Lispector)

segunda-feira, 30 de julho de 2012

SER


            Eu sei é que às vezes dói ser o que a gente é de verdade. Devia facilitar, eu acho. Mas dói. E eu também sei que grande parte dessa gente que circula solta pelas ruas não é o que é. É o que quer ser, o que pensa que deveria ser, ou qualquer outra coisa. Guarda o que é lá no fundo e finge sequer conhecer o que era pra ser. Joga poeira no que é e traz à tona a imagem que quer.
            Essa gente toda deve saber a dificuldade do que é ser o que se é. Não deve ter peito e alma abertos para enfrentar- se a si próprio. Exige coragem, força e doação. Talvez exija alguma inocência nesse conjunto. Ou ainda falta de inteligência. Porque, apesar de tão admirados os que são o que são, não são copiados, nem servem de inspiração.
            Por isso, digo para essa minha gente que é o que é: cuidem-se. Assumir-se diante do mundo, é pôr o coração nas mãos e oferecer praquela enorme gente que finge ser o que não é. É despir a alma e entregar-se ao desconhecido. Por vezes, machuca que sangra e corrói. Mas há de ter alguma recompensa. Há de sentir-se um amor inenarrável. Há de se viver, no sentido mais literal da palavra. Há de se transbordar a felicidade que não alcança quem se esconde por detrás daquilo que não é.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Tanto de nada


Acredite, ele ainda pensa em você todos os dias. E te sente. E te sofre. Te vive e revive a cada minuto. Mesmo não te procurando. Mesmo fingindo estar tudo bem. Você não é passado, é presente. De grego, presente ingrato, mas presente. Queria ele poder voltar no tempo e te devolver... Ah! Quem o dera as coisas fossem tão simples assim.

É difícil de acreditar, quando más línguas já foram te informar sobre como ele está. O registraram em tantas noites, com tantas mulheres, distribuindo tantos sorrisos. Mas homens são assim mesmo, ele te diria. Homem que é homem não curte sofrimento gratuito. Homem de verdade não fica em casa, chorando pela mulher que não tem. Homem vai para a rua, conquistar novas. É esse o processo, você devia saber.

Mas não se engane, menina. Esses sorrisos são sofregamente estampados. Imagine ter que forçar 28 músculos concomitantemente durante uma noite inteira. É esse o preço que ele paga por desfilar a felicidade que não tem. Além de ter que se fazer interessante e interessado pelas mulheres que tão pouco o interessam. Ele não deixa de te viver nem por um segundo, apenas cumpre a fachada social que precisa aparentar, por ser homem.

Você jamais ouviria a respeito de sua reclusão, tristeza profunda, nem amor sentido. Ele nunca se permitiria ficar em casa, ouvindo música e lembrando vocês. E você sabe disso. Aliás, foi por esta faceta pela qual se apaixonou. Viu nele masculinidade, virilidade, desprendimento, e se encantou.

Querendo te acalentar, acho que acabei por piorar tudo. Dor doída na gente, dói. Mas dor doída no outro, fere a alma. Afinal, o que incomoda mais? Pensar que ele não te sente, pois já te superou, ou que te vive diariamente? Porque é isso, acredite. Ele te sente. E te vive. E te sofre. Mas te mente.



quinta-feira, 12 de julho de 2012

Expurgo


Não irei repetir isso. Foi a última noite de erro consecutivo. Não mais te procurarei, nem corresponderei. A brincadeira disfarçada de ingênua, fadada ao desastre, registra hoje seu game over. Prematuro, mas inadiável, o fim do que nunca começamos pisca num neon ofuscante de letras garrafais.

Agora com alguma clareza, percebo que você mesmo talvez o tenha posto à minha vista. Sempre atiçando, mas sempre se esquivando, numa dança patética e fora do meu ritmo. Mostrava que me queria, e fugia quando podia. Só eu, iludida, para ainda sequer pensar em te procurar.

E era o que eu fazia. Corria para a praça dos que cantam, passava pelos bares dos tantos que dançam, cruzava sons de samba, funk, jongo, MPB... E nada de você. Via rostos conhecidos e queridos por você, camisas suas, barulhos seus, bebidas suas, mulheres suas, lugares seus, mas me faltava o seu olhar. Aquele que me desnuda. Aquele que me arrepia. Aquele que me intimida. Aquele pelo qual venho buscando nas noites há dias. Aquele que se perdeu de mim e fez com que eu me perdesse também.

Fiz uma ideia bem diferente de você. Soube de suas muitas mulheres e de seus poucos amores, então, te projetei uma liberdade emocional que não se mostrou real. De fato, você não está algemado, mas encontra-se mais enlaçado do que percebe. Ou, ao menos, do que se permite transparecer.

Por falta de força, embora não de vontade, estou te expurgando de mim. Só te peço que deixe de me perturbar. Chega de Cartola, Bethânia e Chico, pois eles não poderiam ser testemunhas de um encontro que nunca esteve às vésperas de acontecer. Chega de um “ah, se eu vou” que nunca vai. Não me faça salivar, se não poderei degustar, não me olhe faminto, se não haverá banquete. Eu não aguento. Mentiras sinceras até podem me interessar, mas raspas e restos, não. Eu dispenso.




quinta-feira, 5 de julho de 2012

Talvez seja isso.


Às vezes, vejo- te como ilusão. Talvez porque foges de mim ou quando apareces sem fim, sei lá. Só sei que me embaralhas como jamais pude imaginar. Vejo- te ali e ao me certificar, já não estás mais. És difícil de acompanhar.

Penso que te projeto em meu olhar. Talvez tu estejas dormindo ao invés de passear. Pois não vejo propósito, apenas observo-te caminhar tão próximo... Quase ao meu alcance... E, ao piscar, a realidade renasce e o desejo se desconstroi. Não estais lá.

Talvez jamais estivestes, ou ainda talvez meu frágil ser tenha registrado- te uma única vez e agora reflete, num querer eloquente, teu andar preciso e misterioso projetado de minha mente. Talvez seja qualquer um desimportante, mas meu querer transforme-o em ti. Ou talvez sejas tu mesmo, me escapando com tamanha facilidade, que sequer parece existir.