Ontem, diferentemente de como havia sido sempre, ele disse não a ela. Uma negativa acusada ao invés de dita. Uma acusação feita através de um olhar que não via, não enxergava, apenas repelia.
Em contrapartida, ela sentiu-se doer por inteiro. Não por causa do afastamento dele, entenda, mas por si própria. Ela não o queria para a vida, nunca quis. Mas ele não a queria naquele momento. Por quê? O que havia de errado? Por que serem apenas ele e ela separadamente? Se ambos estavam ali, por que não tornarem-se eles?
Ela passara por isso outras vezes, mas é diferente. Sempre é. Claro, cada história é uma história e aquele outro homem não era este. Este é jovem, tranquilo e despreocupado. Ainda não carrega o peso da idade e da vida que o outro mantinha sobre seus ombros curtos.
A relação também não era a mesma. Com aquele, sentia-se esquecida no canto do quarto. Agora, sente-se no alto de uma estante, guardada até com certo cuidado. Mas ela não quer isso. Nunca quis. Deseja ser o brinquedo preferido, o que fica sempre ao alcance, em cima da cama, ao lado do travesseiro.
Então, ela tomou uma decisão. Chega. Cansou. Se ela não serve para ele sempre, é porque primeiro, ele não serve para ela. Já mudou de rumo tantas vezes, não será difícil agora. Ela está triste, como era de se esperar. Mas somente por ter se enganado de novo.
Na verdade, quem de fato enganou-se, foi ele. Pensava estar guardando, quando estava afastando. Pensava estar seduzindo, quando estava repelindo. Pensava ainda tê-la, quando já a havia perdido.