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“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." (Clarice Lispector)

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Não saber


Você não vai saber de nada além daquilo que eu digo. Nunca soube sequer ler os meus olhos. Quiçá me decifrar. Você não vai saber se minto. Você não vai saber o que sinto. Você não vai saber se sou sua, nem se alguma vez deixei de ser somente minha. 
Você nunca saberá o quanto me perturbava diariamente. Nunca ouvirá alguém dizer o quanto eu ficava transtornada, mesmo sem saber o porque. Até rompi com uma amiga, a mais próxima no nosso tempo. Fizemos o jogo do: quem machuca mais? E ambas se perderam. Tudo isso por culpa do vinho indigesto que vocês tomaram na casa dela, ao som do silêncio da minha ausência.
Você não sabe, nem seria eu a te contar, que os nossos encontros casuais me enlouqueciam. Vivia uma semana inteira de frio, chuva, choro fácil e riso travado. Você me transtornava. Não sei o que me doía mais, a falta de você nos intermináveis dias ou lembrar da sua existência vez em quando. Volta e meia ouvia a música que nos canta e constatava que ela não ditava uma promessa, nem se fazia profética.
Você não soube e jamais saberá que pedi aos santos e orixás que te afastassem de mim.  Eu era puro desespero disfarçado de paz. Implorei que me permitissem seguir sem você. Que impedissem qualquer cruzamento em nossas vidas. Que nós nunca mais nos víssemos. Que eu nunca mais soubesse de você. Que não houvesse mais a gente. Parece loucura... E realmente é. Deve ser algum tipo de excesso de sobriedade. Consciência demais faz a gente surtar mesmo.
O que você sabe já, é que não funcionou. Nem os santos me pouparam de você. Poderia culpar o acaso ou o destino, mas o verdadeiro (ir)responsável por isso foi você, que continuou a me ligar com o passar dos anos. Mesmo quando não havia assunto. Mesmo quando não havia mais semelhanças. Mesmo quando parecia não haver nem mais discordâncias.
Agora, você sabe o mesmo que eu. Que estamos à mercê do destino e de nossos caminhos tortuosos. Quanto mais se anda, mais se desencontra, e mais se aproxima. Como pode? Matemática confusa a nossa. Vidas complicadas as nossas. Corações orgulhosos esses nossos.

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