Quando pequena, ela desejava desesperadamente crescer. Afinal, ser mulher parecia muito mais interessante do que ser menina. Poder usar todas aquelas maquiagens milagrosas, saltos que a fariam parecer poderosa, vestidos curtos, pintar os cabelos, fazer as unhas... Ah, ela mal podia esperar!
Sonhava em ter o mundo nas mãos. E ninguém duvidava de que ela o teria. Sempre fora diferente dos seus amiguinhos, não brincava, não ria de besteiras, não se enquadrava. Era madura demais, séria demais, responsável demais... Criança de menos.
Todos insistiam em repetir a velha história de que devia aproveitar ao máximo a infância, porque esta é a melhor fase da vida. Mas a menina considerava isso uma grande besteira. Não via graça no faz-de-conta infantil. Queria mesmo era a realidade. Para que viver imaginando, quando se pode viver o imaginado? Ela não via a hora de ser a dona de seu próprio nariz.
Os anos foram passando, e a garota, que nunca fora criança, cresceu. Começou a despontar como mulher, e a abusar dos artifícios aos quais adquiriu direito. Achou que a partir daquele momento descobriria o que é ser feliz, pois esperara por isso toda a vida. Mas, descobriu então, que sua maturidade era infantil, e que havia crescido apenas fisicamente.
Decepcionada, percebeu que ser adulto é muito mais difícil do que pensava. Sofreu com dores, amores e dores de amores, porque os saltos não a tornavam maior do que ninguém e a maquiagem apenas embelezava, mas não protegia de nada.
A mulher, que agora desejava ser menina, foi ferida e traída. Sempre por quem ela menos esperava. Foi castigada arduamente pelo que havia feito, jamais pensara que desperdiçar a infância lhe custaria tão caro. O olhar de ansiedade, que substituía o de garota, agora estava fora de cena. A expectativa transformara-se em amargura, e seus olhos, que nunca transpareceram ternura, agora transbordavam as lágrimas vindas do coração.
A brincadeira acabou. Que brincadeira? Ela nunca brincou. Mas prometeu a si mesma que vai tentar: brincar de fazer os outros felizes, brincar de acreditar nas pessoas e rir de bobagens, brincar de amar e ser amada. Vai brincar de viver a vida mais feliz que pode ser vivida, e ensinar isso aos seus filhos, um dia.
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