Não irei repetir isso. Foi
a última noite de erro consecutivo. Não mais te procurarei, nem
corresponderei. A brincadeira disfarçada de ingênua, fadada ao desastre,
registra hoje seu game over. Prematuro, mas inadiável, o fim do que nunca
começamos pisca num neon ofuscante de letras garrafais.
Agora com alguma clareza,
percebo que você mesmo talvez o tenha posto à minha vista. Sempre atiçando, mas
sempre se esquivando, numa dança patética e fora do meu ritmo. Mostrava que me
queria, e fugia quando podia. Só eu, iludida, para ainda sequer pensar em te procurar.
E era o que eu fazia.
Corria para a praça dos que cantam, passava pelos bares dos tantos que dançam,
cruzava sons de samba, funk, jongo, MPB... E nada de você. Via rostos
conhecidos e queridos por você, camisas suas, barulhos seus, bebidas suas, mulheres
suas, lugares seus, mas me faltava o seu olhar. Aquele que me desnuda. Aquele
que me arrepia. Aquele que me intimida. Aquele pelo qual venho buscando nas
noites há dias. Aquele que se perdeu de mim e fez com que eu me perdesse
também.
Fiz uma ideia bem diferente
de você. Soube de suas muitas mulheres e de seus poucos amores, então, te
projetei uma liberdade emocional que não se mostrou real. De fato, você não
está algemado, mas encontra-se mais enlaçado do que percebe. Ou, ao menos, do
que se permite transparecer.
Por falta de força, embora
não de vontade, estou te expurgando de mim. Só te peço que deixe de me
perturbar. Chega de Cartola, Bethânia e Chico, pois eles não poderiam ser
testemunhas de um encontro que nunca esteve às vésperas de acontecer. Chega de
um “ah, se eu vou” que nunca vai. Não me faça salivar, se não poderei degustar,
não me olhe faminto, se não haverá banquete. Eu não aguento. Mentiras sinceras
até podem me interessar, mas raspas e restos, não. Eu dispenso.
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