A vida não tem andado fácil. Nunca fora, eu sei, mas esses
últimos dias têm sido ainda mais complicados. Tenho sentido tanto medo... Medo
de morrer e de viver; medo de rir à toa e de não ver graça em nada; medo ser
sensível demais e de endurecer; medo de acreditar e de desconfiar; medo de me
entregar e de travar.
Não
pense que está sendo fácil escrever sobre isso. Estou mexendo no que há de
menos louvável em mim, que é esse medo constante das inconstâncias da vida. E,
ao contrário do que pensam os não- escritores, destrinchar dores em palavras
não alivia. Abre ainda mais a ferida.
A
realidade parece enlear-se cada vez mais com a vontade, aumentando minha
insegurança. No fim das contas, já não sei distinguir uma da outra. Não sei
apontar o que vejo, o que desejo ou o que sinto. Tudo se mistura numa maçaroca
indefinível de achismos e impressões.
Se
alguém me pergunta como foi determinada situação, já descrevo com a cautela e
loucura de quem analisa palavra por palavra, para não ser mal compreendida. Não
satisfeita, repito as partes relevantes reiterando não ter certeza daquilo que
presenciei. Aliás, certeza é uma palavra extinta do meu vocabulário. Sinto um
medo quase mortal de não ser fiel aos fatos.
Deve
mesmo ser algum tipo de piração. Quem se reconhece como são provavelmente tem
alguma consciência do que viu e do que diz. Eu não. Acho que tudo pode não
passar de um mero erro de interpretação. É de enlouquecer, e acho realmente
que, aos poucos, despeço- me da pouca sanidade que tive.
Tento
arduamente me ater aos fatos vivos. Óbvios e imutáveis. Mas o que se
caracteriza assim? Sempre haverá entrelinhas, indiretas, olhares furtivos,
sorrisos disfarçados, palavras não ditas... Sempre. As relações por si só nunca
são sós.
E,
por mais que eu me esforce, não consigo ficar em paz. Tem também sempre um quê
de “as-coisas-não-estão-certas” que eu não sei perceber, quanto mais resolver.
Tem sempre um bolo na garganta, lágrimas nos olhos e coração disparado. Tem
sempre uma dúvida entre o que se sabe e o que se sente. E tem sempre o medo de
estar deturpando a vida.
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