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“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." (Clarice Lispector)

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Medo


              A vida não tem andado fácil. Nunca fora, eu sei, mas esses últimos dias têm sido ainda mais complicados. Tenho sentido tanto medo... Medo de morrer e de viver; medo de rir à toa e de não ver graça em nada; medo ser sensível demais e de endurecer; medo de acreditar e de desconfiar; medo de me entregar e de travar.
                Não pense que está sendo fácil escrever sobre isso. Estou mexendo no que há de menos louvável em mim, que é esse medo constante das inconstâncias da vida. E, ao contrário do que pensam os não- escritores, destrinchar dores em palavras não alivia. Abre ainda mais a ferida.
                A realidade parece enlear-se cada vez mais com a vontade, aumentando minha insegurança. No fim das contas, já não sei distinguir uma da outra. Não sei apontar o que vejo, o que desejo ou o que sinto. Tudo se mistura numa maçaroca indefinível de achismos e impressões.
                Se alguém me pergunta como foi determinada situação, já descrevo com a cautela e loucura de quem analisa palavra por palavra, para não ser mal compreendida. Não satisfeita, repito as partes relevantes reiterando não ter certeza daquilo que presenciei. Aliás, certeza é uma palavra extinta do meu vocabulário. Sinto um medo quase mortal de não ser fiel aos fatos.
                Deve mesmo ser algum tipo de piração. Quem se reconhece como são provavelmente tem alguma consciência do que viu e do que diz. Eu não. Acho que tudo pode não passar de um mero erro de interpretação. É de enlouquecer, e acho realmente que, aos poucos, despeço- me da pouca sanidade que tive.
                Tento arduamente me ater aos fatos vivos. Óbvios e imutáveis. Mas o que se caracteriza assim? Sempre haverá entrelinhas, indiretas, olhares furtivos, sorrisos disfarçados, palavras não ditas... Sempre. As relações por si só nunca são sós.
                E, por mais que eu me esforce, não consigo ficar em paz. Tem também sempre um quê de “as-coisas-não-estão-certas” que eu não sei perceber, quanto mais resolver. Tem sempre um bolo na garganta, lágrimas nos olhos e coração disparado. Tem sempre uma dúvida entre o que se sabe e o que se sente. E tem sempre o medo de estar deturpando a vida.      





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