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“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." (Clarice Lispector)

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Tardia


Mesmo adulta, ela às vezes sente-se carente, órfã até. Procura o colo da mãe, o conforto da casa dos pais, o cheiro de lar. Corre atrás do que a fez menina, e se esquece de que já é mulher.
Ela não sabe se por insegurança ou por carência, mas tem sido muito difícil caminhar por suas próprias pernas. Talvez elas ainda sejam um tanto curtas... Ou talvez seja o caminho demasiado longo. O fato é que tem sido exaustivo, conflituoso e doloroso seguir por novas trilhas.
Vez em sempre, o coração aperta e ela corre de volta, como uma criança mimada. Regride tudo o que havia progredido, mas não se arrepende, porque continuar por ali é bem melhor. Recarrega-se e volta a andar. Os pais, aliás, têm essa mania: cismam que os filhos devem ir. Mas para que isso? Tudo o que ela quer é ficar.
Ela segue em passos de formiga e sem vontade. Sente mais medo do que jamais pensara sentir. Medo da estrada, das bifurcações, das companhias, da solidão, do destino final. Cada passo seu, é uma grande vitória, acredite. Significa que por um segundo, foi forte o suficiente para continuar.
Mas aí, vem a chuva. Não aquela chuva que aprecia- se quando vista da janela de casa. A chuva do lado de fora, é sentida na pele. Os fortes pingos gelados, unidos ao vento frio, desencorajam- na a seguir, então, ela para. Congela, enquanto a chuva desaba sem trégua.
O pânico cresce, e a mulher esquece que é mulher, pensa que é menina e volta correndo para casa dos pais. Quer o colo da mãe, o urso da infância e a cama com cheiro de lar. Volta para aquilo que se propôs deixar para trás. Depois ela amadurece, amanhã, quem sabe. Mas agora não. Está escuro lá fora... Espere a chuva passar.


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